segunda-feira, janeiro 23

Mercy

À beira de completar 81 anos, John Cale publica Mercy,(17º álbum a solo e o primeiro numa década), na companhia de Weyes Blood, Animal Collective, Sylvan Esso, Fat White Family e Laurel Halo, e se não há, já, um coro de louvores, devia haver. Se Cale tivesse sido apenas o produtor que foi, bem o merecia, se tivesse sido apenas parte dos Velvet Underground, era justo ter um livre trânsito para este paraíso. A maioria das canções deste album nasceu de um certo tipo de improvisação - ou não fosse ele um homem da vanguarda -, mas está lá a âncora do rock, por muito amargo que nos pareça. Cale não suporta viver sem desfigurar a harmonia perfeita. Talvez por isso, num raro momento de simpatia, Lou Reed tenha dito: “Só espero que, um belo dia, John seja reconhecido como Beethoven ou outro compositor dessa grandeza. Ele sabe muito de música, apesar de ser completamente louco. Mas isso é por ser galês.” A leitura de Superstars: Andy Warhol e os Velvet Underground (Assírio & Alvim, 1992), extenso dossiê, incluindo entrevista quadripartida e dicionário sobre os Velvet Underground, publicado por Les Inrockuptibles aquando da reunião histórica da banda para a abertura da exposição Andy Warhol System, Pub, Pop Rock, a 15 de junho de 1990, na Fundação Cartier, em Paris dá muitas pista sobre quem assina este album que reclama por músicos à altura do album-testamento de Bowie. “Não existe qualquer futilidade no rock’n’roll. Na vanguarda, sim. O rock’n’roll é demasiado urgente para ser fútil e é isso que ele tem de fantástico.” Num tempo em que ele está bem moribundo, poderá mais alguém salvá-lo?

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