sábado, outubro 15

101 anos de Seara Nova


"A Seara Nova representa o esforço de alguns intelectuais, alheados dos partidos políticos mas não da vida política, para que se erga, acima do miserável circo onde se debatem os interesses inconfessáveis das clientelas e das oligarquias plutocráticas, uma atmosfera mais pura em que se faça ouvir o protesto das mais altivas consciências, e em que se formulem e imponham, por uma propaganda larga e profunda, as reformas necessárias à vida nacional”. 
Assim abria o editorial do primeiro número, no qual os fundadores se comprometiam, “em nome de toda a elite portuguesa”, a ser poetas militantes, críticos militantes, economistas e pedagogos militantes”. 

O número inaugural foi publicado a 15 de Outubro de 1921. Fundada no período final da I República por Raul Proença, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, Raul Brandão entre outros intelectuais descontentes com a decadência do regime e empenhados em comprometer a elite cultural e científica portuguesa num projecto de reforma política e social que criasse um país mais justo, instruído e moderno, a Seara Nova foi depois um espaço de oposição permanente à ditadura militar e ao Estado Novo, combate que custou a muitos dos seus principais colaboradores a prisão e o exílio. Além de ter acolhido escritores como Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Manuel Teixeira Gomes, José Rodrigues Miguéis ou José Régio, a revista, serviu de tribuna a importantes críticos e historiadores de arte de diversas disciplinas, como Lopes-Graça e Humberto de Ávila, na música, Adriano de Gusmão, nas artes plásticas, José-Augusto França, que na revista escreveu principalmente sobre cinema, ou João Pedro de Andrade, no teatro. 

Se o período inicial da Seara Nova e a sua relação com A Águia de Teixeira de Pascoaes, da qual tinham saído Proença e Cortesão, tem sido bastante estudado, o papel da revista nos anos da ditadura militar está mais esquecido.


P.S.— A revista é hoje propriedade da Intervenção Democrática e tem como director João Luiz Madeira Lopes, estando a coordenação científica do programa a cargo de Luís Andrade, do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, que é também o coordenador do portal Revistas de Ideias e Cultura, que já em 2017 criou um site dedicado à Seara Nova, com a digitalização integral dos 1604 números publicados entre 1921 e 1984.

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