domingo, abril 4

Discutir o racismo n’ Os Maias?

Saber se há passagens n´Os Maias que o transformam num romance racista, ou se é pertinente sublinhar a presença destas passagens — que se encontrariam com a mesma facilidade em virtualmente qualquer romance português do século XIX — são perguntas tão justas quanto cada um ler o romance do Eça como entender (só não se admitindo que seja lido no tom chato, prescritivo e analítico como continua a ser ensinado).

Mas há mais perguntas que se podem fazer. 

1- Queremos mesmo um Governo a dizer-nos como interpretar Os Maias?

2- Alguém duvida que Eça, Camilo e toda a literatura europeia dos séculos XIX e XX está cheia de ideias racistas? 

3- Alguém duvida que nesse tempo a ideia de civilizar os negros não era uma ideologia plausível? 

4- Se não aceitarmos as "anotações" estaremos a dizer que não problema sério de racismo em Portugal e a evitá-lo discutir? 

5- A solução de ir encontrando-se passagens racistas em obras literárias do passado, identificando-a aos alunos e aos leitores, dizendo-se o que está certo e o que está errado, oferecendo uma ideia de moral faz ou perigar a ideia de Literatura?

6- E se as personagens forem tudo o pensamos e rejeitamos, mas também irónicas ou caricaturas, quem nos garante que o "anotador" percebeu?

7- E  Camões com os seus poemas líricos não encerra um tipo de machismo que ofende a dignidade da mulher?

8- E quem nos garante que não chegamos aqui, principalmente, por dogmatismos ideológicos e apriorísticos estereotipados?

9- E se gastarmos o nosso tempo, estabelecendo prioridades: primeiro análise dos trabalhos de mérito reconhecido no campo dos estudos queirosianos (Carlos Reis, Isabel Pires de Lima, Orlando Grossegesse, Irene Fialho...) e depois o resto?

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