domingo, abril 4

Andrei Tarkovsky "vive" ainda


“Um livro lido por mil pessoas diferentes são mil livros diferentes. O leitor de imaginação vívida pode ir além do relato mais lacónico, muito mais além e mais visualmente do que o próprio escritor previu (na verdade, os escritores, muitas vezes, esperam que o leitor reflicta para lá do texto). Por outro lado, um leitor contido, inibido por restrições e tabus morais, verá a descrição mais precisa e cruel apenas através do filtro moral e estético que se formou dentro de si. Porém, ocorre uma espécie de alteração dentro da consciência, num processo inerente à relação entre escritor e leitor; é como um cavalo de Tróia, a partir de cujo ventre o escritor entra na alma do leitor, tendo como função específica inspirar o leitor a participar na autoria da obra.”
Andrei Tarkovsky (4 de Abril de 1932 – 29 de Dezembro de 1986), Esculpir o tempo, 1987, p. 177-178.

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Caiu em desuso no tempo do cinema para “entreter”, mas Tarkovsky “vive” ainda. Até anda pela internet numa montagem-video a que chamaram The Revenant by Tarkovski, e que justapõe imagens do último e tão celebrado filme de Alejandro Gonzalez Iñarritu a imagens de filmes de Andrei Tarkovsky. A montagem acerta em cheio: entre a “alusão” e a pura cópia, percebe-se que boa parte de O Renascido macaqueia filmes do realizador russo de que temos, não só hoje, saudade.

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