
Marguerite Duras, pseudónimo de Marguerite Donnadieu (Saigon, atual Cidade de Ho Chi Minh, 4 de abril de 1914 — Paris, 3 de março de 1996) foi muita coisa. Romancista, novelista, roteirista, poetisa, diretora de cinema e dramaturga francesa, sendo considerada uma das principais vozes femininas da literatura do Século XX na Europa. A sua obra tem uma geografia imaginária: "É preciso que eu diga desde já que a geografia é completamente inexacta. Criei uma Índia, Índias, como se dizia... durante o colonialismo.". Nunca gostou das adaptações ao cinema feitas por outros a partir dos seus livros. Não gostou nada da adaptação de O Amante e, para pôr os pontos nos ii, até escreveu outro livro: O Amante do Norte da China. Essa irritação levou-a mais longe. Quis fazer os seus próprios filmes. Em 1996 realizou o primeiro e durante quase 20 anos dedicou-se ao cinema. Mas um cinema particular: história cheias de vozes off e imagens a mostram pouco. O invisível atinge o seu ponto máximo em L"Homme atlantique (1981), onde, ao fim de dez minutos, o ecrã torna-se negro, até ao fim. Mas o horror, o horror é Hiroxima, como é o Holocausto. É toda a dor do mundo. E o mar é tudo: "Olhar o mar é olhar tudo" (Uma Barragem contra o Pacífico). A dependência do álcool levou-a a ser internada em diferentes ocasiões para tratamentos de desintoxicação. Abordou o tema no livro A Vida Material: "O álcool não consola, não preenche os vazios psicológicos, mas supre a ausência de Deus. Não compensa o homem. Pelo contrário, anima a sua loucura, transporta-o a regiões supremas onde é mestre do seu próprio destino.” Foi expulsa do Partido Comunista, acusada de confraternizar com trotskistas e de frequentar boîtes, mas a verdade redigiu-a ela mesma: "Fui comunista até me dar conta de que o partido soviético não era comunista." As suas experiências eróticas são um percurso de libertação.
“É nesse momento que ela lhe pede apenas que fique sobre o sexo imóvel. Afasta as pernas para ele ficar no espaço vazio. Ele está no espaço vazio das pernas afastadas. Ele coloca a cabeça sobre a entreabertura que encerra a coisa interior. Ele é o rosto contra o monumento, já na sua humidade, quase nos seus lábios, na sua respiração. Numa docilidade que provoca lágrimas fica ali muito tempo, de olhos fechados, sobre a superfície do sexo abominável. É nessa altura que ela lhe diz que ele é o seu verdadeiro amante, por causa dessa coisa que ele lhe disse, que ele nunca queria nada, que a boca dele está tão perto, que é insuportável, que ele tem de fazer aquilo, amá-la com a boca, amá-la como ela ama, ela, ama quem lhe dá prazer, e grita que o ama por fazer aquilo, que ele para ela é uma pessoa qualquer, como ela é para ele. Ainda grita depois de ele ter afastado o rosto.”
Marguerite Duras, Olhos Azuis Cabelo Negro, tradução de Tereza Coelho, Difel, Lisboa, 1987, p. 41-42.

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