domingo, novembro 29

Estes pós-modernos....


A Cultura Moderna 

de Roger Scruton
edição: Edições 70, outubro de 2020

Está tudo aqui e aquilo que nenhum académico consegue: clareza e objetividade nas ideias. E começa por esta: “a cultura pop contém redutos de serenidade e melodia”, mas não o suficiente para transmitir algum legado. O juízo está ausente e tudo se traduz, filtro aplicado, num ataque aos “valores burgueses”, ao “patriarcado” e ao “lar”. Scruton é curto e grosso: no geral, os nossos jovens permanecem num estado selvagem que tanto lhes impossibilita a transmissão do saber como a sua receção. E a escola encoraja-os a um curriculum multicultural que lhes desfiguram as obras do passado e lhes oferece, ao invés da crítica, a teoria. A comunidade desapareceu. Sim, estamos perto de um fim. Vivemos numa “mera civilização”, uma espécie de porta de entrada para um fim tanto mais acelerado consoante os teóricos eleitos de punho em riste imprimam maior ou menor velocidade à decomposição da sociedade ocidental. À ideia de que o valor e o gosto são dispensáveis junta-se à máxima de não há nada de errado em sermos de nowhere em vez de somewhere., mas não o seu inverso. O fim da civilização é um melodrama noveleiro de um kirsch penoso sob o pressuposto de que o curriculum multicultural é que fará justiça às múltiplas culturas que vivem e subsistem na cidade moderna. A cultura atualmente proposta e aceite é um torpor mental coletivo, que nos livra do terrível que é estudar e aprender, por exemplo, outras línguas antigas. É um plano de leitura nacional horizontal assente em teorias e nenhum sentido crítico. Já não há uma ideia de pensamento político como pensamento estético, como em Burke, Coleridge, Dostoievski ou Eliot, mas antes uma máscara e um poder que é a ideologia, que é, afinal, a cultura. Já não sabemos o que fazer, mas temos plena consciência do que não fazer: não rejeitar, de forma alguma, por exemplo, o feminismo e o identitário, mesmo quando estes toma de assalto o curriculum cultural num mapa de indefinição e com o objetivo de tornar os dois sexos rivais. Uma proposta crítica de cultura e saber (não se aflijam) que não deixa ela própria de servir para a leitura do livro, em especial, quando condena em bloco a arquitetura moderna, o feminismo ou a cultura pop, ou que defende o discurso incendiário de Enoch Powell contra a imigração. A ideia crítica acima de qualquer teoria, de qualquer teologia do repúdio com a marca final de lembrar que Confúcio morreu sem encontrar o seu rei-filosofo, mas disse sempre o que quis deixando-nos, por isso, a mais importante lição para os dias de hoje: esperança.

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