Por ter nascido atrasado, por ter perdido os dadaístas e os surrealistas (o seu grande desgosto) e por não ter sido o pintor que desejava, guardou no nome Gainsborough, do pintor barroco inglês, para se dedicar a uma "arte menor". O fumo de cinco maços de Gitanes por dia nunca lhe cobriu o nariz adunco, as orelhas proeminentes, o génio. E não vejo outra maneira de poder imaginar condignamente este homem, que foi muito melhor do que o foleiro jargão "maior do que a vida", do que pensar que a atravessou sempre pelo lado de fora, como se não encaixasse em lado algum e como se soubesse que seria assim até se sentir exausto. Por isso, foi mestre na "chanson", escreveu para a Eurovisão, gravou rock, pop, bandas-sonoras, álbuns conceptuais — anotem: eu trato o meu vinil, “Histoire de Melody Nelson”, 1ª edição, 1971, como um filho, ou seja, não se aproximem, porra! — manipulou géneros e génios e meninas incautas com alegados chupa-chupas e aos 62 anos quis descansar. Mas já sabem, Serge Gainsbourg, nome artístico de Lucien Ginzburg (Paris, 2 de abril de 1928 - Paris, 2 de março de 1991) está vivo enquanto gostarmos dele. Pessoalmente, até que me sinta exausto.
E MAIS,
O cinismo é um desses conceitos que nos agarram o braço se lhes dermos o dedo. E é de esperar que ele esteja à espreita quando está tudo preparado e o palavreado cessa. "Sucettes", vamos lá ver, deriva de "suck" e a vítima (France Gall) só o pôde descobrir a meio da digressão, lá no longíquo Japão, de onde nunca recuperou e, conta a lenda, de vergonha, nunca regressou. Na TV, o senhor cínico, repararão, demora a tirar a máscara (primeiro o dedo...), mas sorri sempre, parecendo brincar como fazem os grandes felinos com as suas pequenas e delicadas “presas” antes da refeição.
NOTA: as imagens podem chocar os espectadores mais sensíveis, em especial, se vistas numa TV a cores, onde a presa aparece com cabelos bastante loiros.
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