segunda-feira, março 13

O futuro foi apresentado há 54 anos


No mágico ano de 1967, enquanto os Beatles (que Lou Reed, em 1987, à Rolling Stone, haveria de confessar detestar juntamente com os Doors) celebravam o summer of Love, com Sgt. Pepper´s..., os Velvet Underground olhavam para o futuro da música rock e abraçaram um som dissonante, uma base rítmica simples e uma escrita inspirada na literatura com o seu álbum de estreia, The Velvet Underground & Nico (Verve Records). Todo o rock que se seguiu veio beber aqui, inclusive (e particularmente) o punk.

Lou Reed nunca esteve com rodeios:"Sempre tivemos as maiores objeções em relação a toda a cena de S. Francisco. É uma completa mentira, uma aborrecida falta de talento geral. Não sabem tocar e são absolutamente incapazes de compor. Passo a vida a dizer isto e ninguém liga. Costumávamos calar-nos, mas deixei de me ralar por dizer coisas negativas, alguém tem de falar". 

E Brian Eno profeticamente anunciou: "the first Velvet Underground album only sold 10,000 copies, but everyone who bought it formed a band." 

A ideia de paz não passava necessariamente por um banho de amor, mas fundamentalmente por não deixar ninguém desfrutar das canções de forma frívola.

O álbum, a que o rock ficou a dever todos os seus melhores crédito futuros, abre com "Sunday Morning", uma bonita ode à paranóia; "I’m Waiting For the Man", algures entre Bob Dylan e o glam rock, lançou as bases da fundação da futura igreja de David Bowie ("Hey white boy, what you doin’ uptown?"); genial "Venus In Furs" colocava a dissonante guitarra de Cale contra a bateria hipnótica de Maureen Tucker sobre uma letra de Reed resultante da sua leitura de Leopold von Sacher-Masoch; "Femme Fatale" soma Nico à banda e é uma canção pedida por Warhol dedicada a Edie Sedgwick, a primeira de muitas personagens da Factory que viriam a influenciar a banda; "All Tomorrow’s Parties" é outra das inspiradas na vida Factory; o piano repetitivo de Cale conduz uma melodia melancólica sobre uma mulher que perdeu a sua família; "Run Run Run" celebra a "New York City junkie life"; "There She Goes Again" traz a influência do R&B directamente de hit, de 62, de Marvin Gaye, "Hitch Hike", mas focado na leitura de Reed do dia-a-dia de uma prostituta, "She’s out on the streets again / She’s down on her knees, my friend / But you know she’ll never ask you please again", porém, longe da ideia trágica dessa mulher: "Now take a look, there’s no tears in her eyes / Like a bird, you know she would fly, what can you do / You see her walkin’ on down the street / Look at all your friends that she’s gonna meet…"; "I’ll Be Your Mirror", que acabou por ser o single do álbum, lançado em 1966, tem uma agressividade vocal de Nico que nunca foi do agrado de Reed e Cale; o experimentalismo deste último surge em "The Black Angel’s Death Song" e "European Son", com letra de Reed, vem dedicada ao seu mentor da altura, Delmore Schwartz. O álbum ainda traz uma das mais bonitas "drug songs" de sempre, "Heroin" que até define bem o álbum. Abrindo com uma linha melódica da guitarra de Reed sobre uma cacofonia de sons, a geração flower power, entre LCD e marijuana, era apresentada a um "anjo negro".

Abandonada a influência sufocante de Warhol e feita a despedida a Nico, seguiram-se mais três trabalhos que, longe da importância do primeiro, passaram com distinção a prova do tempo: White Light/White Heat (1969), que subiu o nível dos decibéis e marcou a despedida (por expulsão) de Cale, substituído por Doug Yule,  The Velvet Underground, o homónimo, mais acústico e com menos acidez e perversa bizarria que a falta de Cale fez notar e, finalmente, Loaded (1970) que "fechou" o grupo com as saídas de Reed e Morrison (esqueçamos o Squeeze, álbum que nem está reconhecido na discografia da oficial da banda).

No mágico ano de 1967...

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