quinta-feira, março 16

"Morrer jovem / e de rosas coroado"



A 16 de Março de 1959, morre, no Rio de Janeiro, com 61 anos, o poeta português António Botto (Concavada, 17 de Agosto de 1897 - Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959), na sequência de um atropelamento.

Pouco depois, escreveu José Régio:


" "Morrer jovem / e de rosas coroado".
Assim um dia sonhou António Botto. E tal seria, decerto, a morte mais adequada ao esteticismo do juvenil autor das "Canções". Mas diversas maneiras há -- por igual aceitáveis -- de um poeta morrer. Uma delas é principiar a morrer cedo, ter uma lenta agonia, conhecer a infelicidade até ao fundo, acabar quando já mais ou menos morto. Esta parece haver sido a que os fados escolheram para António Botto, como a tinham escolhido para Verlaine, Wilde, ou Gomes Leal. Menos espectaculosamente infeliz do que o destes, porventura não terá sido o seu fim menos realmente infeliz. Além de que, poeta português, burilador duma língua falada por muitos milhões de indivíduos mas ainda quase desconhecida da Europa culta, nunca António Botto gozou, nem, muito provavelmente, gozará, da europeia celebridade de Wilde ou Verlaine. Sempre têm de se conformar com pouco -- os representantes duma literatura que, embora original, os estrangeiros desconhecem; e os próprios naturais menosprezam, continuamente lhe preferindo as alheias. (...)".


in José Régio, Crítica e Ensaio/2, Círculo de Leitores, p. 278.

Sem comentários:

Enviar um comentário