Alberto Savinio, em Vida de Henrik Ibsen (Cotovia, 2006), pergunta: "Que sabemos nós do fundador da dramaturgia moderna? Quantos de nós assistiram já à representação de uma única peça que seja, escrita pelo dramaturgo mais representado de sempre (mais ainda que Shakespeare)? Henrik Ibsen morreu em 1906." Nascido na Noruega, Henrik Ibsen (20.3.1828 – 23.5.1906), escrevia numa língua compreendida apenas por cerca de 4,5 milhões de pessoas. Contudo, ainda em vida, suscitou inflamadas reações de gente como James Joyce, Rainer Marie Rilke, E.M. Forster ou Bernard Shaw, para nomear alguns. É sabido que a filha de Karl Marx aprendeu norueguês para poder ler Ibsen no original. É apenas um dos episódios surpreendentes que acompanham o percurso da obra do norueguês, exemplo do seu magnetismo universal. Portugal ainda parece auto-excluído do universo: a edição (como a representação) da obra de Henrik Ibsen foi, por cá, tão diminuta quanto episódica, e é hoje praticamente inexistente. Mereceu um número especial da revista "Presença", por ocasião do centenário do seu nascimento, por um dos maiores trabalhadores da redação.
"Eis como as soluções de Ibsen pertencem muito mais à Arte do que à Filosofia, à Moral, à Sociologia. E referindo-me ao aspecto por assim dizer filosófico d’ "O Pato Bravo" -- eu quiz sobretudo vincar um terceiro elemento importantíssimo na constituição artística de Ibsen: a sua sensibilidade moral. Isto é: a sua capacidade singular de continuamente descobrir e pôr problemas de ordem moral. Profunda intuição psicológica, alta imaginação poética, ampla sensibilidade moral -- eis os três elementos capitais da personalidade artística de Ibsen. Por tais elementos se amalgamarem n’"O Pato Bravo" com um equilíbrio talvez não excedido pelo próprio autor -- escolhi esta peça como das mais representativas do seu génio."
José Régio, in Atravez duma peça de Ibsen - "O Pato Bravo", in "Presença", n° 11, Coimbra, 31 de Março de 1928, p. 6-8.
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NOTA: Sobre a Presença, pode folhear, digitalmente, toda a revista, aqui.
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