...conta a lenda que houve um ou dois leitores a quem rebentaram os vasos sanguíneo de tanto rir e os amigos lamentaram a sua sorte quando o médico os proibiu de prosseguir a leitura de Pickwick. Mas a lenda ainda é mais generosa. Conta-se, também, que Fernando Pessoa lamentava já ter lido este livro por não poder voltar a lê-lo pela primeira vez e que Chesterton terá dito: “Dickens não escreveu exactamente literatura; escreveu mitologia”.
Celebra-se hoje o 209º aniversário de Charles Dickens e já que temos unanimidade que chegue, celebremos a data com aquele que pode ser o pior parágrafo inicial de que há memória na (melhor) literatura mundial.
"O primeiro raio de luz que ilumina as trevas, convertendo num brilho ofuscante a obscuridade a que parecia votada a história remota da carreira pública do imortal Pickwick, deriva da consulta do seguinte assento do Livro de Actas do Clube Pickwick, cuja exposição aos olhos do leitor é do maior agrado do editor destes documentos, enquanto testemunho da cuidada atenção, da infatigável diligência e do criterioso discernimento com que conduziu a sua investigação por entre os variadíssimos papéis que lhe foram confiados."
Charles Dickens, Os Cadernos de Pickwick, tradução: Margarida Vale de Gato, ilustração: Robert Seymour, edição: Tinta da China, março de 2012, p.33)Felizmente, na altura, existam bares abertos e a coisa encarreirou. Isto, do pior parágrafo de sempre, só se pode dizer não menosprezando as restantes 934 páginas de elevada categoria que surgiram logo a seguir.
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