segunda-feira, fevereiro 27

A noite desce ainda somos jovens


Ruy Belo (27.2.1933 - 8.8.1978) tem no enquadramento da sua obra na poesia portuguesa do seu tempo um problema ainda em aberto. Onde Gastão Cruz parece ver um poeta modernista, já Joaquim Manuel Magalhães o situa numa linha de poetas de Wordsworth, de Eliot, e mesmo no Pós-modernismo, na linha de Dylan Thomas. Os anos 90 é que parecem ter sido dele — na ambiciosa antologia de Osvaldo Silvestre e Pedro Serra, Século de Ouro, é, a par de Álvaro de Campos, o poeta mais representado. Enquanto procuramos pistas, um caminho já se pode abrir: o da morte.

A noite desce ainda somos jovens
Morrer é deixar isto a este lado
De nada serve já
o diálogo com vozes silêncios
na praia a nosso lado
Amanhã molharemos
o corpo noutro dia e beberemos
na bica costumada
onde poderá subitamente correr
uma canção conhecida

Cada dia mais morte que morte
haverá para nós no fim dos dias?

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