quarta-feira, janeiro 18

O dia em Gilles Deleuze enervou Manoel de Oliveira



Com a morte trágica, em 4 de Novembro de 1995, de Gilles Deleuze (Paris, 18 de janeiro de 1925 — Paris, 4 de novembro de 1995) ficamos sem uma linha do anunciado Grandeza de Marx do filósofo que não gostava de viajar nem de debates públicos. Sobraram alguns ensaios de Alain Badiou, que muitos "delezianos" contestam (com José Gil à cabeça) e vários um documento precioso. Gosto de destacar a carta que Manoel de Oliveira escreveu a Deleuze, em 1991, quando acabava a montagem de Party e lia Critique et clinique. Nesse ano, a revista Cahiers du Cinema, publica um excerto de uma longa carta de Manoel de Oliveira a Gilles Deleuze, na qual o cineasta discorre em torno de algumas inquietações com que ficara após o visionamento de um registo da conferência de Deleuze Qu’est‐ ‐ce que l’acte de création?. O filósofo tinha finalizado a conferência dizendo que toda a obra de arte é pensada para um povo inexistente. Para Gilles Deleuze, a SegundaGuerra Mundial tinha sido o ponto de viragem do cinema, pois, após esta, sentia‐se apenas ausência do povo político que tinha estado antes presente na produção cinematográfica – «se houvesse um cinema moderno politizado, ele existiria dentro desta premissa: o povo já não existe, ou pelo menos ainda não existe...o povo está ausente». É neste ponto que, na sua carta, Manoel de Oliveira se opõe ao filósofo com maior veemência. Para Oliveira não é o povo político que falta mas sim o povo de Deus, enfatizando assim a distância entre a vida de Cristo e os tempos modernos – postura já visível quase trinta anos antes no irreverente encerramento do Acto da Primavera - indignando-se com a ideia de se poder equiparar Jesus Cristo a um "personagem conceptual". No polo oposto, a evocação da sua grandeza, por Eduardo Prado Coelho.

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