sexta-feira, outubro 14

3 anos sem o crítico do "novo"


Ainda não sei se Harold Bloom irritava mais pelo seu "cânone" de homens brancos, ocidentais, masculinos e todos mortos ou por achar que já nada se faz de novo. 

Se for só pelo último motivo, a discussão pode ser interessante. 

A que "novo" se referia ele? O criado pelo modernismo? O que enfrenta os gigantes da tradição literária, "acende" e repete? Bloom gostou de Saramago, de Eça, de Pessoa e de Camões. Não tive ocasião de lhe enviar um exemplar da Agustina, do Lobo Antunes e (para ganharem os vivos) do Gonçalo M. Tavares. O meu tempo é caótico. Como a nossa idade, creio.
"Leitor omnívoro e voraz – gabava-se de ler e absorver 400 páginas numa hora e de saber recitar de cor toda a poesia de Shakespeare, o Paraíso Perdido de Milton e ainda a obra completa de William Blake –, Bloom foi também um dos mais polémicos críticos da sua geração, com a sua defesa intransigente daqueles que via como os grandes criadores da tradição literária ocidental, cujo estatuto via ameaçado pelos sectores académicos a que chamava a “escola do ressentimento”, na qual incluía o marxismo, o multiculturalismo ou o feminismo. “Só falta começarem a partir-me os vidros das janelas” (...) E se a academia torce o nariz tanto às opiniões como à popularidade de Bloom, que crê interligadas, o crítico responde na mesma moeda: “Aí por 1990 cheguei à conclusão de que não valia a pena escrever para um único académico. (…) O que me dá forças para viajar tanto, nesta idade, é que, em todo o lado onde falo, me aparecem verdadeiros leitores. São brancos, negros e asiáticos, são homossexuais e heterossexuais, são velhos e novos, ricos e pobres. São leitores. Pessoas completamente indiferentes a todo esse lixo que se ensina nas universidades”.
Luís Miguel Queirós, do "Obituário", Público.

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