domingo, outubro 9

Mr. Baker, o homem que odiava o rock



Neste dia, em 2019, deixava-nos Ginger Baker. Mas foi bom ele ter deixado a Graham Bond Organisation para se juntar a Eric Clapton (o melhor amigo) e, mais tarde, a Jack Bruce (o melhor inimigo) para formar os Cream. 

No rock foi pioneiro de inventivas e explosivas secções rítmicas e prova disso é Disreali Gears, o segundo álbum do grupo, editado em 1967, um ícone do psicadelismo aplicado ao rock, exploração mais tarde radicalizada em Wheels of Fire, o terceiro da banda, datado de 1968. "Toad", tema do álbum de estreia Fresh Cream, inclui pum dos primeiros solos de bateria do rock: um duro no duplo bombo que mais tarde encantaria o heavy metal (para desespero de Ginger Baker...). 

Só mesmo ele para não concordar que os Cream estejam entre os mais influentes do rock. Prefiro tocar jazz, detesto rock”. Antecipando-se a esta sentença tão crua, a verdade é que Cream foram uma banda de improvisação tal como os The Who ou os Led Zeppelin. Portanto, teve culpa alguma que Wheels of Fire se tivesse tornado no primeiro álbum duplo do mundo a ser disco de platina. 

Concretizou a sua visão musical nos Ginger Baker Air Force, formação de dez elementos onde conjugavam de forma fluída jazz-rock, afro-beat e blues. Ao contrário do que era norma nos músicos do ocidente que viajavam brevemente para outros territórios para absorver a música local, Baker instalou-se na metrópole nigeriana para aprofundar a sua paixão pelos ritmos do afrobeat. Nas décadas de 1970, 80 e 90, gravou e tocou com vários músicos e formações das mais diversas geografias musicais: Max Roach, Public Image Ltd., Art Blakey, Hawkwind ou Elvin Jones, tendo fundado, em 1994, um trio de jazz com Charlie Haden e Bill Frisell. 

De todo o seu acidentado e rico percurso dá conta o documentário Beware of Mr. Baker (2012), de Jay Bulger, retrato de um músico genial que era também um homem irascível e ameaçador. 

Viveu a vida sem fazer concessões, sem pensar nas consequências e não gostava de tocar nada que estivesse menos do que perfeito. Isto dava um belo epitáfio, pena ninguém me ter perguntado nada.

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