LIVROS

Obras Completas Maria Judite de Carvalho,
de Maria Judite de Carvalho, Minotauro, novembro de 2018
As vidas literárias de Maria Judite de Carvalho são sempre monótonas e vazias. "Aquilo não é vida", "não há nada a fazer". Foi (um)a escritora da solidão e do silêncio das "palavras poupadas". A publicação da sua obra melhorou muito o ar de 2018 e refrescou-nos a memória de uma "flor discreta", como lhe chamou Agustina Bessa-Luís, escusado será dizer, acertadamente.
56/25-31"
de Esménio, Flop, setembro de 2018
"Cinquenta e seis - vinte e cinco da terra e do rio, trinta e um do mar e dos viajantes" é uma espécie de ovni pelo esmero do Esménio (que veio do espaço) e pela coragem de uma editora que sempre anunciou ser Flop. É um daqueles livros que não sabemos bem guiar nem para onde ele nos leva. É um bom e inclassificável pedaço de vida alheia num português fresco, eloquente, precioso. É uma graça de um Deus vagabundo entre o nosso fogo de artifício. (E entre "ficções de supermercado" a quem vem declarar a próxima morte).
Não é Grave Ser Português
de João Rios, Abysmo, maio de 2018
Quando Pascoaes inventou Portugal pensou que se tinha limitado a descobri-lo. Quando imaginou os Portugueses, entregando-lhes as palavras e as visões que só a ele pertenciam, enganou-se. Os Portugueses de Pascoaes nem sequer existiam. João Rios relativiza a culpa do grande "penitente" e à falência dos bigodes e da galopante erosão do bronze das nossas estátuas responde que isto de ser português não é bom, nem é mau, antes pelo contrário, não é grave. Uma visão punk e em verso de alguns episódios da História de Portugal para contar aos "pequenitos". O bom humor está de volta à poesia. Não façam essa cara.
Pensar Depois no Caminho
de Alberto Pimenta, Edições do Saguão, maio 2018
Se os tempos são de económicas SMS, o Pimenta é de épicas vibrantes. Esta, aqui, apresenta-se numa linguagem acessível, apesar do seu labor intenso, mas não traz concessões. Deus e o diabo ocupam um dos lugares centrais do poema (ou será do "guião"?) com profundas derivações para a nossa tecnologia: "smartphone/ na mão/ como um espelho/ duplo". Talvez, por isso, tudo pareça ser construído (o poema) sob ameaça. As páginas impares falam com/e para as pares, mas não sempre; irão revoltar-se, transbordar o "écran".
(E aquela fluidez mágica em contraste com quem só acumula...).
Não há meio deste homem se sentar sempre que a humanidade está em perigo.
de José Alberto Oliveira, Assírio & Alvim, janeiro de 2018Admirável economia de meios e humor de quem quer estar mesmo (ainda que pudesse escolher outra coisa) de passagem. Já não merecia este invisível no reconhecimento e espanta-me muito que não se espantem imenso com quem escreve assim: "só queria/ dizer duas ou três coisas/ e não sair de rastos".
Roberto Arlt, Snob, setembro 2018
Se fossemos muito exigentes com estas listas, só teríamos a honestidade de colocar no "top" livros que encerrassem a potencia de um severo apostolado de exigência e que ridicularizem os eternamente prenhes de literatura ("Se não formos nós a salvar a arte, quem o fará?", não é verdade?). Eis um livro de contos do escritor a quem Bolaño se referiu como Jesus Cristo. E só Deus, o pai dele, portanto, sabe que só o conto "Escritor Fracassado" bastaria para o inscrever no lote dos imortais. Porém, há mais loucura arltiana, "uma forma da utopia popular. Sai-se da pobreza também por meio da ficção".
Cair para Dentro
de Valério Romão, Abysmo, fevereiro de 2018.
No caso de Autismo, uma criança autista e a história da sua família, no caso de O da Joana, uma gravidez, um nascimento precoce, um nado-morto e, agora "somos cães roendo doenças". Tudo nasce de dentro para fora das personagens que só estão ali para reagirem à extrema pressão da situação numa quase ausência de descrições. Há uma contaminação da poesia nesta prosa que justifica o meu gosto. A dificuldade no ato de pousar o livro vem de imaginar uma espécie de curto-circuito entre Saramago, Lobo Antunes e um bom humorista (quando os três entram num bar, claro). A escrita crua e visceral é aumentada pelo humor subtil, pelo coragem e pela extrema fé no outro. Que a crueza, portanto, não vos engane.

ILUMINURAS,
de Théodore Fraenckel, Douda Correria, setembro 2018
Assinado por Théodore Fraenckel, nascido em 1900 e falecido a 3 de Julho de 1950, talvez Joaquim Manuel Magalhães. numa recente entrevista, tenha cometido a inconfidência (?) de nos esclarecer ser este o pseudónimo de Fernando Guerreio. Seja como for é um livro de um "imagista surrealista perturbado pela leitura dos clássicos" e nitidamente encantado pelo cinema, tanto que evoca um filme estreado dois anos após a sua morte: The World In His Arms (1952), de Raoul Walsh. A poética é mais bela quando enfrenta a poética e em tom de quase manifesto "certos de que todas/ as ficções se finam num pingo de tinta/ de onde partem as aves, de asas incineradas,/ à procura de um fim que as salve da literatura."
A Vida em Chamas --Uma Antologia
Luis Alberto de Cuenca, Língua Morta, abril de 2018
Poesia mordaz, pessimista e hedonista. Ou poesia de "honestidade existencial", como nos escreve o tradutor e poeta Miguel Filipe Mochila (que este ano também merecia um prémio individual). Num cruzamento de erudição e "massas", Cuenca revela-nos facilmente do que fala, mas com um alerta: "poesia / não é comunicação mas conhecimento".

Curiosidades Literárias e Outros Contos,
de Rubén Darío, Exclamação, março 2018.
Eis um "bravo libertador da América" capaz de arrancar gargalhadas à calçada que, conta a lenda, já lia aos 3 anos. A mestria desta literatura mostra-se ao nível das contrações do músculo zigomático principal, aquele que eleva os cantos da boca, e do músculo orbicular do olho, o que aumenta as bochechas e forma os pés de galinha ao redor dos olhos. Recomenda-se nenhuma moderação.

Em minúsculas,
de Herberto Helder, Porto Editora, abril de 2018
"Se eu quisesse, enlouquecia", escreveu HH n’ Os Passos Em Volta. Aqui, nesta recolha do seu trabalho jornalístico em Angola, entre abril de 1971 e junho de 1972, poderia ter escrito "se eu quisesse, teria sido jornalista", mas corrige bem o filho, no prefácio: "não foi jornalista porque foi sempre outra coisa qualquer". Não sei por que foi tão ignorado, mas é um livro essencial para se conhecer um pouco melhor aquele que sem paciência encurtou sempre as razões. (O texto sobre Agustina Bessa Luís é particularmente acertado e brilhante).

Curiosidades Literárias e Outros Contos,
de Rubén Darío, Exclamação, março 2018.
Eis um "bravo libertador da América" capaz de arrancar gargalhadas à calçada que, conta a lenda, já lia aos 3 anos. A mestria desta literatura mostra-se ao nível das contrações do músculo zigomático principal, aquele que eleva os cantos da boca, e do músculo orbicular do olho, o que aumenta as bochechas e forma os pés de galinha ao redor dos olhos. Recomenda-se nenhuma moderação.

Em minúsculas,
de Herberto Helder, Porto Editora, abril de 2018
"Se eu quisesse, enlouquecia", escreveu HH n’ Os Passos Em Volta. Aqui, nesta recolha do seu trabalho jornalístico em Angola, entre abril de 1971 e junho de 1972, poderia ter escrito "se eu quisesse, teria sido jornalista", mas corrige bem o filho, no prefácio: "não foi jornalista porque foi sempre outra coisa qualquer". Não sei por que foi tão ignorado, mas é um livro essencial para se conhecer um pouco melhor aquele que sem paciência encurtou sempre as razões. (O texto sobre Agustina Bessa Luís é particularmente acertado e brilhante).
Poesia Reunida
de Manuel Resende, Cotovia, abril de 2018.
Nestas 200 páginas cabem os três livros que Manuel Resende publicou: Natureza Morta com Desodorizante (Gota de Água e Imprensa nacional-Casa da Moeda, 1983), Em Qualquer Lugar (& etc., 1998), O Mundo Clamoroso, Ainda (Angelus Novus, 2004) e uma dezena e meia de "inéditos e esparsos" (Poemas de Mika Ahtisaari). Presta homenagem a Alexandre O’Neill no poema "Alexandre, o Grande", o que em termos de "filiação", para este poeta quase esquecido, dá pistas, mas tratando-se de um escritor culto, com inclinação muito livre, talvez não mereça etiquetas. Muitos poemas são longos, quase épicos, de exaltação da acção colectiva ("Eu é um pseudónimo de nós/ e nós um pseudónimo disto tudo"), mas tudo termina numa libertadora cereja em cima do bolo.
Paulo Nozolino,
de Sérgio Mah, INCM, outubro de 2018.
de Sérgio Mah, INCM, outubro de 2018.
Na nebulosa edição da INCM, sauda-se a Série Ph., coleção bilingue de monografias dedicadas a fotógrafos portugueses contemporâneos, que dedica o segundo volume a Paulo Nozolino, figura central da fotografia contemporânea portuguesa. Com textos de Sérgio Mah e Rui Nunes, o livro percorre a obra de Nozolino desde a década de 1970 com trabalhos realizados nas suas múltiplas viagens e estadas pela Europa, Médio Oriente, Américas e África.
Nómada,
de João Luís Barreto Guimarães, Quetzal Editores, maio de 2018.
de João Luís Barreto Guimarães, Quetzal Editores, maio de 2018.
Os 42 poemas abarcam o plano imediato e sensitivo, mas também a dúvida e o silêncio. Cabem "a pastilha elástica colada à sola do sapato", o odor inconfundível da "batata frita", "as águas altas do Sena" e "o conhecimento de tudo (quando bem acomodado) cabe no espaço de uma caixa craniana". A busca pela "verdade que existe nas coisas comuns" já convenceu tanto António Lobo Antunes que este apresenta o poeta como «o mais importante dos autores portugueses para os próximos dez anos».
Um Quarto em Atenas,
de Tatiana Faia, Tinta da China, janeiro de 2018.
Há um silêncio que nos salva de estar vivo e os mais felizes estendem-se "até à noite que retumba sobre as pedreiras". Mas já se alcança o suficiente com uma breve respiração em suspenso lendo e perguntando "que amor prendeu estes homens às coisas e às casas
tanto que fazem o seu trabalho
e preparam com cuidado
e banalidade de regressos quotidianos"?de Tatiana Faia, Tinta da China, janeiro de 2018.
Cartas e Recordações,
de Saul Bellow, Quetzal Editores, março de 2018.
Poemas Escolhidos
de William Wordswhorth; Tradução: Daniel Jonas, Assírio & Alvim, abril de 2018.
Um coração que se entregou a coisas vagas, gastando o seu favor em cepos, pedras e ar livre, sem parecer um daqueles poetas que tocam às campainhas em horas sempre impróprias. Um romântico "elevado", um tipo que opera naquele estranho lugar onde as nossas ideias e percepções se fundem e trabalham. Tudo perfeito e, por isso, mereceu um Daniel Jonas como curador e tradutor, para que na língua de chegada, e ainda que possam existir "desvios", nunca se perdesse o essencial: o arrebatamento.
Para Comigo
de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio D'Água, novembro de 2018
Esta redução a escombros da sua obra anterior (mais dois pequenos livros sem edição comercial aqui incluídos) constituiu uma radicalização (polémica) que ganha com sucessivas releituras. A depuração salvaguarda o som das palavras num exercício que, gostemos ou não, é singular.
Mas há mais a merecem aqui uma referência (além dos que me vou esquecer por falta de tempo ou saber): A Última Porta Antes da Noite, António Lobo Antunes (Dom Quixote); Sombra Silêncio, Carlos Poças Falcão (Opera Omnia); Dicionário dos Anti (INCM); Manual do Condutor de Máquinas Sombrias, Rui Pires Cabral (Averno); Solaris, Stanislaw Lem (Antígona); O Invisível, Rui Lage (Gradiva); Goethe, João Barrento (Bertrand); O Século dos Prodígios, Onésimo Teotónio de Almeida (Quetzal); Aforismos, Karl Kraus (VS); Obra Poética – I, António Ramos Rosa (Assírio & Alvim); Poesia, Mário-Henrique Leiria (E-Primatur); Obra Completa, Arthur Rimbaud (Relógio D’Água); Aos Ombros de Gigantes, Umberto Eco (Gradiva), "Suíte e Fúria", de Rui Nunes (Relógio D’Água) e Ecologia, de Joana Bértholo (Caminho).
O Livro de Imagem, Jean-Luc Godard
No Coração da Escuridão, Paul Schrader
O Homem-Pykante, Edgar Perâ
Western, Valeska Grisebach
O Outro Lado do Vento, Direção: Orson Welles
Linha Fantasma, Paul Thomas Anderson
ROMA, Alfonso Cuarón
RAMIRO, Manuel Mozos
o AMANTE DE UM DIA, Philippe Garrel.
BlacKkKlansman, Spike Lee
CINEMA
O Livro de Imagem, Jean-Luc Godard
No Coração da Escuridão, Paul Schrader
O Homem-Pykante, Edgar Perâ
Western, Valeska Grisebach
O Outro Lado do Vento, Direção: Orson Welles
Linha Fantasma, Paul Thomas Anderson
ROMA, Alfonso Cuarón
RAMIRO, Manuel Mozos
o AMANTE DE UM DIA, Philippe Garrel.
BlacKkKlansman, Spike Lee
TELEVISÃO
Escape At Dannemora - Ben Stiller (Netflix)
Escape At Dannemora - Ben Stiller (Netflix)
Castle Rock - Sam Shaw e Dustin Thomason (TV Series)
Condor - Todd Katzburg, Jason Smilovic e Ken Robinson (TV Series)
Unité 42 - Julie Bertrand, Annie Carels e Charlotte Joulia (TV Series)
Sara -- Bruno Nogueira (RTP2)
Unité 42 - Julie Bertrand, Annie Carels e Charlotte Joulia (TV Series)
Sara -- Bruno Nogueira (RTP2)
MÚSICA
INTERNACIONAL
Both Direction at Once -- John Coltrane
Heaven and Earth -- Kamasi Washington
Neneh Cherry -- Faster Than The Truth
Fatima -- And Yet It's All Love
Laurie Anderson & Kronos Quartet -- Landfall
American Utopia - David Byrne
Sons of Kemet -- Your Queen Is a Reptile
INTERNACIONAL
Both Direction at Once -- John Coltrane
Heaven and Earth -- Kamasi Washington
Neneh Cherry -- Faster Than The Truth
Fatima -- And Yet It's All Love
Laurie Anderson & Kronos Quartet -- Landfall
American Utopia - David Byrne
Sons of Kemet -- Your Queen Is a Reptile
Bjørn Torske -- Byen
Jon Hassell -- Listening to Pictures
Blood Wine or Honey -- Fear & Celebration
Kamaal Williams -- The Return
Blood Orange -- Negro Swan
Sean Khan -- Palmares Fantasy
Elza Soares -- Deus é Mulher
Joy As An Act of Resistance -- Idlies
Hunter--Anna Calvi
NACIONAL
Jibóia --0000
Paus -- Madeira
Salto -- Férias em Família
Pedro & Jenna Camille -- This Is What I’m Going Through
Corona -- Santa Rita Lifestyle
Niagara -- Apologia
Glockenwise -- Plástico
Duquesa -- Norte Litoral
Filipe Sambado -- Filipe Sampado & Os Acompanhantes de luxo
Joana Espadinha -- O Material Tem sempre Razão
Dead Combo -- Odeon
Linda Martini -- Linda Martini
PAPILLON--Deepak Looper
Jon Hassell -- Listening to Pictures
Blood Wine or Honey -- Fear & Celebration
Kamaal Williams -- The Return
Blood Orange -- Negro Swan
Sean Khan -- Palmares Fantasy
Elza Soares -- Deus é Mulher
Joy As An Act of Resistance -- Idlies
Hunter--Anna Calvi
NACIONAL
Jibóia --0000
Paus -- Madeira
Salto -- Férias em Família
Pedro & Jenna Camille -- This Is What I’m Going Through
Corona -- Santa Rita Lifestyle
Niagara -- Apologia
Glockenwise -- Plástico
Duquesa -- Norte Litoral
Filipe Sambado -- Filipe Sampado & Os Acompanhantes de luxo
Joana Espadinha -- O Material Tem sempre Razão
Dead Combo -- Odeon
Linda Martini -- Linda Martini
PAPILLON--Deepak Looper
MINUS & MRDOLLY --Man With a Plan
ISAURA -- Human
Sérgio Godinho -- Nação Valente
REEDIÇÕES
José Mário Branco - Inéditos 1967 - 1999
Dylan – More Blood, More Tracks (The Bootleg Series Vol. 14)
The Kinks – The Kinks Are The Village Green Preservation Society
Roxy Music – Roxy Music
Sérgio Godinho -- Nação Valente
REEDIÇÕES
José Mário Branco - Inéditos 1967 - 1999
Dylan – More Blood, More Tracks (The Bootleg Series Vol. 14)
The Kinks – The Kinks Are The Village Green Preservation Society
Roxy Music – Roxy Music
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