O Homem-Pykante

(Antes de tudo) O Homem-Pykante — Diálogos Kom Pimenta é o resultado de uma amizade com mais de 24 anos que resultou numa "pelíkula"-- hoje, no Trindade, Edgar Pêra confidenciou que é assim que Alberto Pimenta chama ao documentário, e assim mesmo, com "k". Depois, é parte de arquivos filmados entre 1994-2018, de performances, conversas e leituras do poeta e ensaísta, selecionadas e organizadas por Manuel Rodrigues e, posteriormente, montadas por Pêra ao seu estilo caleidoscópio.

Esta "pelíkula" é, também, um agradecimento que não nos faz perder tempo; não faz a devida homenagem, mas a homenagem devida em vida à obra, ao poeta e à persona de Alberto Pimenta e o desafio não cai em nenhuma ratoeira do "típico" documentário, desde logo na mais célebre: a de valorizar o homenageante mais do que o homenageado. E isto, vale muito. Como a poesia de Pimenta, a "pelíkula" também optou por cruzar, ela própria, espectros de poesia, ficção e teatro, dando espaço para a dimensão performativa de Pimenta e para muito do significado do seu trabalho, em especial quando filma com insistência uma porta, objeto por onde tanto se entra como se sai, logo, intrigante e misterioso na sua aparente simples função.

É, por fim, um enorme elogio ao nosso maior experimentador (por natureza) e inconformista (por convicção), um artista que divide os poetas em "tolerados" e "tolerantes" considerando-se, ele próprio, "um ´tolerado´, no mesmíssimo sentido do termo administrativo com que eram designadas as prostitutas em Portugal até cerca de meados do século XX". É também por este humor que já se (des)espera pela edição em DVD.