sexta-feira, junho 21

Sobre a escrita

Françoise Sagan, pseudónimo de Françoise Quoirez (21 de Junho de 1935 — 24 de Setembro de 2004) escritora francesa, morreu em 2004 vítima de uma embolia pulmonar. Aos 18 anos, conheceu um sucesso fulgurante com o seu primeiro romance de juventude, Bonjour Tristesse, creio, o único título traduzido para português. A sua paixão pela velocidade desmedida e pelo álcool, os sucessivos tratamentos de desintoxicação a que foi submetida e a sua dependência pelo jogo levaram-na praticamente à ruína. A partir de 1990, o seu nome foi, por várias vezes, envolvido em escândalos relacionados com uso e posse de droga. Em 2002, apareceu implicada numa fraude fiscal ligada à companhia petrolífera ELF Aquitaine.
“Não acredito que haja uma escrita feminina específica, mas pode haver talvez uma literatura feminina, no sentido de que muitas escrevem a pensar que são mulheres e querendo afirmar ou negar a sua feminilidade. Isso dá romances, ou plangentes, ou áridos. Pessoalmente, quando escrevo, não penso na diferença de sexos. O ideal seria que estivesse ausente das obras. Boa literatura é aquela em que não pensamos no autor. Infelizmente, a moda é o oposto. Quando lemos “Os irmãos Karamazov”, não pensamos em Dostoiévski. Este é o grande defeito da literatura actual: os escritores querem desenhar-se a si mesmos, em vez de desenhar os seus heróis. É pretensioso e lamentável. É bem mais visível nos homens agora. Se a escritora pensa em si mesma, isso transparece. Se gosta de escrever, não pensa em si mesma. Simplesmente não pensa. Quando os escritores eram anónimos, a literatura era muito mais viva; agora, os escritores estão sempre a tentar falar de si nas suas obras. Muitas vezes é algo narcisista. É muito mais interessante ler um livro em que o escritor se expressa por meio de heróis, em que não haja essa preocupação complacente. Agora, a personagem do escritor é mais importante do que a das suas personagens. As pessoas lembram-se melhor de mim do que das minhas personagens.” . 
(Françoise Sagan, Je ne renie rien - Entretiens 1954-1992”, Éditions Stock, 2014.)

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