OBRAS PROIBIDAS E CENSURADAS NO ESTADO NOVO Coordenação de Álvaro Seiça, Luís Sá e Manuela Rêgo Biblioteca Nacional, 2022, 486 págs., €15 Disponível em livrariaonline.bnportugal.gov.pt |
Existe uma Biblioteca da Censura que permite ir um pouco mais longe no conhecimento do que foi o pensamento dos censores do Estado Novo. Este “arquivo negativo”, descoberto em 2017 por Luís Sá e Manuela Rêgo, funcionários da Biblioteca Nacional (BN), é uma biblioteca obscura de mais de mil livros, apesar das perdas que possam ter ocorrido. Um elemento imprescindível para o desenvolvimento da história da nossa repressão que, agora, junta à lista de livros proibidos os livros dos Serviços da Censura.
Acusados de serem imorais, pornográficos, comunistas, irreligiosos, subversivos, maus, antissociais, dissolventes, anarquistas, revolucionários, entre outros "mimos", os livros proibidos contam histórias para os que queiram ver os golpes de que foram alvo, as marcas, os sublinhados, as anotações, os relatórios e contrarrelatórios que desencadearam. É nesses relatórios que a iliteracia dos censores — quase cómica, não fosse trágica — ressalta. Uma censura arbitrária e asfixiante que queria moldar as consciências e a moral da sociedade. Bons exemplos não faltam, a começar pelo mais conhecido a Quando os Lobos Uivam, de Aquilino Ribeiro - embora aqui o censor nos surpreenda pelos neurónios que, ainda assim, soube utilizar. Escreve o censor: “É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é talvez a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido. Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares e muitos outros já devem ter passado a fronteira, por isso deixo ao esclarecido critério de V. Exa. decidir se, nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe assim largo reclame e dando motivo a que contra o governo se insurjam várias críticas nacionais e estrangeiras.” Foi, então, sugerida a proibição de críticas, resenhas ao livro e, claro, a reedição do romance.
Mas este livro da B.N. está repleto de outras "pérolas". Eu gosto particularmente desta sobre (é opinião da maioria, não a minha que a guardo para A Engomadeira) o melhor romance de Almada Negreiros. O censor, num gesto rápido e muito hábil, aproveita o momento e também dá uma pincelada larga na pintura do artista.
Notável e imprescindível edição, em especial, para os neurónios da actualidade.
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