domingo, novembro 5

Um contador de histórias

Dizia de si próprio que era um homem que escrevia a partir das suas próprias experiências e que era capaz de ir ao fundo de si, mesmo que esse exercício se revelasse extremamente doloroso. Quis ensinar os outros a olhar a arte de uma forma que ainda não tinha sido explorada - «Uma linha, uma zona de cor, não é realmente importante por ter registado o que alguém viu, mas porque nos levará a seguir olhando»Em 2011, numa entrevista à BBC2, disse que, no seu coração, se via apenas como um contador de histórias.Trabalhou para alargar os horizontes de cada espectador declarando guerra à solenidade dos discursos que cobrem a Arte de uma pátina tediosa.
 “O espelho era frequentemente usado como símbolo da vaidade feminina. Esse uso moralizador era, contudo, essencialmente hipócrita. . Pintava-se uma mulher despida por se ter prazer em olhá-la. Punha-se um espelho na sua mão e chamava-se a isso “Vaidade”, o que equivalia a condenar a mulher cujo desnudamento se havia representado para o próprio gozo. . A verdadeira função do espelho era outra: tornar a mulher conivente ao fazê-la considerar-se a si mesma como uma vista.” 

JOHN BERGER (Londres, 5 de Novembro de 1926 – Paris, 2 de Janeiro de 2017), Modos de Ver, tradução de Jorge Leandro Rosa, Antígona, Lisboa, 2018, pp. 65-66.

*

”A Vaidade”, de Hans Memling (1430-1494).

Sem comentários:

Enviar um comentário