domingo, setembro 11

Javier Marías (1951 - 2022)

Não temos a certeza de praticamente nada e dependemos daquilo que nos é contado. Do seu livro O Teu Rosto Amanhã: “somos pessoas que simplesmente estão e esperam. Isso é o que faz grande parte da Humanidade”. Deixamos de nos preocupar sobre o que é ou não verdadeiro. Dizemos, eu gosto desta versão da realidade e por isso acreditamos. Falamos sempre pressupondo que sabemos onde nascemos, como e quando. Tomamos a decisão de acreditar. E essa decisão é o início de tudo. Falamos sobre o que fizemos (estudei tal coisa, fui a tal escola, frequentei a universidade, escrevi estes livros), mas não chega. Falamos de nós omitindo o que não fizemos, os fracassos, o que correu mal, o mal que fizemos e tudo isso que faz parte do que somos. Porém, não conta; fazemos como se não contasse. Desistimos da dimensão onde é possível moldar, pelo menos um pouco, o mundo em que vivemos e piorámo-lo com este moralismo “moderno”. Se um filme tem um vilão coreano, isso equivale a falar mal de todos os coreanos? Tudo é símbolo de tudo? É enorme a falta de discernimento do que há séculos estava perfeitamente claro: a distinção entre o território real e o ficcional. “Somos pessoas que simplesmente estão e esperam". Ele não.

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