O autor conseguiu reunir neste trabalho um dos mais preciosos acervos de testemunhos de críticos, de jornalistas, de amigos e companheiros do José Afonso e, nessa variedade e riqueza, às vezes com naturais contradições interpretativas, o leitor pode compreender com profundidade a obra e o processo criativo de José Afonso.
Do livro percebe-se que José Afonso estranhou, à data, algumas soluções sonoras, apaziguou-se com elas mais tarde, mas não lhe era confortável atarem-no a um só disco: “A crítica em geral reduz-me ao autor de Cantigas do Maio, o que quer dizer que antes e depois não fiz nada que preste. É uma bela crítica de música, a nossa!”, queixava-se José Afonso em entrevista a José Amaro Dionísio (Expresso, 1985). Mas ao falar com José Jorge Letria, ainda em 1971, já diz: “Creio que foi a melhor coisa que fiz até agora”.
Fica mais uma prova da boa colheita musical de 1971: para lá da qualidade intrínseca das canções, sobressai a inovação sonora e uma profundidade rara na música portuguesa, entre a aparente simplicidade do popular Milho Verde, acompanhado apenas por um adufe, e a opulência quase operática do "Coro da Primavera" que, já de olhos no futuro, bradava a plenos pulmões: “Ergue-te, ó sol de Verão!”.
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