quarta-feira, maio 31

Walt Whitman, Fernando Pessoa e Patti Smith, entram num bar



A UM ESTRANHO

Estranho que por mim passas! 
não sabes com que anseio meus olhos te fitam. 
Porque és aquele que eu procuro, 
aquela que eu procuro (como se fora um sonho), 
Tenho a certeza que, nalguma parte, alegremente vivi contigo, 

Recordo, ao nos cruzarmos, tudo, fluido, afectuoso, casto, calmo, 
Cresceste comigo, foste comigo um rapaz, comigo foste rapariga, 
Comi contigo, dormi contigo, 
o teu corpo não ficou só teu, 
nem o meu corpo só meu, 
Deste-me o prazer dos teus olhos, do rosto, da carne, 
ao nos cruzarmos levas da minha barba, peito, mãos, em troca. 

Não me cumpre falar-te, 
eu sou quem existe para pensar em ti, 
quando fico sozinho ou de noite acordo, 
Eu sou quem deve esperar, 
seguro de voltar a encontrar-te, 
Eu sou quem deve cuidar de te não perder para sempre.

Walt Whitman (31 de Maio de 1819 – 26 de Março de 1892), "To a Stranger", tradução de Jorge de Sena.

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