sexta-feira, abril 30

Onde está Jorge Molder?


É uma das interrogações suscitadas por uma exposição construída com 20 das peças constantes do acervo do Museu de Arte Contemporânea de Serralves e é antigo o debate: autorretrato ou autorrepresentação? Ou em versão melhorada:  ainda é possível fazer uma separação clara entre o que é autorrepresentação e o autorretrato.? Hoje, a contaminação deixa difícil o espaço para um resposta concreta. Molder faz fotografia a partir do seu corpo, mas também fotografa outros objetos. Como num jogo.  
A abrir a mostra está a série mais antiga das obras ali representadas: “T.V.” (1995). Os títulos carregam uma elevada dose de ironia e apontam para referências que nada têm a ver com uma ligação literal ao imaginário sugerido. Importa a ideia de coleção, importa a ideia de introdução de modificações, menos o processo de mostra mais o processo de construção. E como sempre, predomina o preto e branco. A fotografia a cor nunca atraiu muito Molder até pela menor capacidade de mudança,. Talvez surpreenda, mas Molder considera-se um leitor médio. “Não sou um grande leitor, mas fui marcado por algumas obras que estão lá, como ‘Ulisses’, de James Joyce, ‘The Waste Land’, de T. S. Eliot.” Ou outras, como “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), “Photomaton & Vox”, de Herberto Helder, e “La vie, mode d’emploi” e “Un cabinet d’amateur”, de Georges Perec. Já não lê textos, e os últimos que terá lido são os de Perec. Continua a ler muito, sobretudo poesia “de pessoas das novas gerações. Literatura não. É sempre uma coisa tão pesada e tão aborrecida que não tenho paciência”. O mundo de Molder é o mundo das imagens.

JORGE MOLDER — OBRAS DA COLEÇÃO DE SERRALVES 
Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, até 3 de outubro

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