
"[Na Operação Marquês] Ficámos a saber, por exemplo, que um primeiro-ministro falava e escrevia em linguagem codificada com um amigo, que tratava como um serviçal, para solicitar e receber, insistentemente, numerosas entregas de dinheiro vivo. Ou, ainda, entre muitas outras coisas notáveis, que esse mesmo ex-primeiro-ministro mandou comprar uma enorme quantidade de exemplares de um livro de que era autor, conseguindo assim ser um best-seller. Muitos dos factos e acções dos diversos actores deste lamentável filme, tendo em conta as suas responsabilidades sociais e políticas, independentemente da sua qualificação e enquadramento jurídico pelos tribunais, são em si mesmos lamentáveis e, em alguns casos, repugnantes, pelo que revelam de duplicidade, de hipocrisia social e de despudor. Este ex-primeiro ministro está a responder em tribunal por graves crimes e, por isso, não é agradável bater-lhe, antes devendo ser objecto de compaixão, mas ao esquecer-se de tudo o que ficámos a saber e ao insistir publicamente na tese da cabala como razão de ser da Operação Marquês, atribuindo-se, assim, um estatuto público de mártir ou mesmo herói, comporta-se como se estivesse convencido que somos todos estúpidos e que não percebemos o penoso papel que desempenha na vertente não judicial desta tragicomédia: a de um pantomineiro, que, infelizmente para todos nós, fez e faz mais pelo descrédito do regime democrático do que qualquer perigoso populista."
Francisco Teixeira da Mota, Público
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