"A direita civilizada é a direita que não só foi sujeita à civilização — ao trabalho exercido pelas culturas ao longo do tempo, quase todas diferentes da nossa — como se habituou a ela. A direita, ao contrário da esquerda, é antiquíssima. Existia muito antes de Marx, existiu durante Marx e continuará a existir depois de Marx. A direita é a apologia da estabilidade, da coexistência e da tradição, definida como a experiência acumulada que já mostrou funcionar bem no passado. A direita é por definição democrática porque a estabilidade só funciona se for apresentada como a decisão de uma maioria. Só através da democracia é que aqueles que foram eleitoralmente derrotados aceitam o exercício do poder por parte dos vitoriosos. A direita civilizada é sempre conservadora neste sentido: só aceita as mudanças absolutamente necessárias para manter a estabilidade. É por isso que no fim do século XX e no princípio do século XXI, ser conservador é obrigatoriamente ser social-democrata, já que nos países da Europa Ocidental a maioria jamais aceitaria o desmantelamento dos serviços nacionais de saúde, de educação e de segurança social. O que mais define a direita civilizada é o horror à mudança. Ser conservador é preferir o que existe ao que já existiu ou ao que pode vir a existir. O lema é “mais vale o diabo que se conhece do que um deus desconhecido”. A direita incivilizada é a direita reaccionária que quer regredir: por exemplo, os libertários que querem voltar a um capitalismo sem social-democracia, com um estado mínimo. Aqueles que querem desmantelar a própria democracia não são de direita: são revolucionários reaccionários, apaixonados pela mudança e pela novidade. Em contrapartida, a direita civilizada está sempre bem."
Miguel Esteves Cardoso, Público
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