"E o que é, então, o socialismo, segundo Pedro Nuno Santos? Bom, muitas das coisas que ele enumera, também eu defendo, também eu quero: melhor escola pública, melhor serviço público de saúde, melhor rendimento do trabalho, melhor transição ambiental, mais amanhãs que cantam — quem não quer? É como o discurso de Marcelo, na sua recente posse: não há ali nada que toda a gente não subscreva. A questão não é o quê, mas o como. E o como implica também o quando, o quanto e o quem. Sobre isto, e preocupado com as respostas que as pessoas buscam para “os seus problemas concretos”, Pedro Nuno Santos dá uma resposta tão preguiçosa quanto previsível: mais Estado, mais gastos públicos, mais impostos. Não é de admirar em quem é capaz de defender que não se pague a dívida mas também é capaz de a acrescentar de 4000 milhões, para começo de conversa, e para “salvar” a TAP, sem que ao fim de um ano se conheça o mais pequeno plano de reestruturação a sério da companhia, tirando aquilo que qualquer um apresentaria numa semana: redução de aviões, de postos de trabalho, de salários (e que tipo de target comercial terá a TAP do futuro? Com que aviões? O que fará com o curto e médio curso? E com o mercado americano que Neeleman abriu? Vai continuar a apostar em ser uma low-cost com custos de luxo ou vai querer ser uma companhia com serviço de primeira?).Ele está abrigado numa empresa chamada Estado, cujas dificuldades de tesouraria se resolvem aumentando os impostos sobre todos os criadores de riqueza ou chutando dívida para as gerações seguintes pagarem. Assim é fácil falar.Eu quero poder voar de e para Portugal pagando um preço justo pelo bilhete e não o preço político de sustentar uma companhia aérea sem futuro."
Miguel Sousa Tavares, "O sermão de Pedro às criancinhas", in Expresso
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