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Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Autor desconhecido |
Anos depois do seu suicídio em Paris, aos 25 anos, Mário de Sá-Carneiro ainda não se libertou da sombra de Fernando Pessoa, mas é bem possível que caminhemos para a conclusão que nada lhe deverá. A pista para melhores reflexões passa por um muito meritório documentário O Estranho Caso do Mário de Sá-Carneiro, com realização de Paulo Seabra e argumento de José Mendes, cujo link deixo aqui, ainda sem edição em DVD (que eu saiba). De Eduardo Lourenço a Fernando Cabral Martins, passando por Richard Zenith a Jerónimo Pizarro, todos concluem que Pessoa (“o arquiteto”) estimulou Sá-Carneiro (“a força”) a tornar-se poeta, mas também que este, do alto da “sua” Paris, é que convenceu o amigo para avançar para a vanguarda, emocionando-o para o desdobramento heteronímico que se seguiu. Que depois de Pessoa ser convencido a aderir à vanguarda vai numa velocidade incrível e que Sá-Carneiro não o pôde acompanhar, é outra história. Sobra a correspondência deste (a de Pessoa só Pedro Eiras a conhece) para provar a lucidez e o saber para o reconhecer e não ser esmagado.
A Ode Triunfal parece ter marcado o fim do caminho partilhado pelos dois, para o que a carta a Pessoa de 13 de Julho de 1914 se mostra determinante:
“sinto que nunca poderia ter escrito a ode do Álvaro de Campos porque em todo o caso não amo tudo que ele canta suficientemente para assim o fixar…Sinto menos do que ele, amo menos do que ele, estrebucho menos do que ele as avenidas da ópera, os automóveis, os derbies, as cocottes, os grandes boulevards… E eu amo isso tudo portanto de tal ânsia (…) qual será o meu fim real? Não sei. Mas, mais do que nunca acredito, o suicídio…”
A 26 de Abril do ano seguinte, Mário de Sá-Carneiro, ingere cinco frascos de arseniato de estricnina num quarto do Hotel de Nice, junto à Place Pigalle.
Não escapou a si próprio.
Anda sempre por ai.
Anda sempre por ai.
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