A morte precoce do seu marido, em 1978, aos 59 anos, deixou-lhe em mãos uma quantidade monumental de projectos não realizados, toneladas de manuscritos, propósitos de livros de prosa, poemas e correspondência. Mécia de Sena (Leça da Palmeira, 16 de março de 1920 - Los Angeles, 28 de março de 2020) assumiu a organização, documentação e edição do espólio literário, assim como a promoção e revelação da obra de Sena. Devemos um enorme agradecimento à escritora e guardiã ou, talvez melhor, à "colaboradora literária” de Jorge de Sena.
JORGE A MÉCIA DE SENA
Esta noite sonhei contigo. Não foi bem contigo.
Sonhei sozinho no teu nome, enquanto circulava
num supermercado junto à área hortofrutícola.
Em vez de vegetais, as arcas expunham livros
coloridos com o teu nome na capa. O teu nome
inscrito como se fosse o veio de uma folha, a raiz
de um vegetal fresco. E eu peguei nos livros,
pesei-os, levei os que me pareciam mais frescos
para uma salada à hora de almoço, a mesma
em que te vejo à janela recolhendo a roupa
do estendal, perdendo algumas molas, refilando
com os dedos desastrados para os arames,
mas tão suaves para prosas quebradas em verso.
num supermercado junto à área hortofrutícola.
Em vez de vegetais, as arcas expunham livros
coloridos com o teu nome na capa. O teu nome
inscrito como se fosse o veio de uma folha, a raiz
de um vegetal fresco. E eu peguei nos livros,
pesei-os, levei os que me pareciam mais frescos
para uma salada à hora de almoço, a mesma
em que te vejo à janela recolhendo a roupa
do estendal, perdendo algumas molas, refilando
com os dedos desastrados para os arames,
mas tão suaves para prosas quebradas em verso.
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