100 de Sena (8)
"Do ponto de vista cultural, Jorge de Sena sustentou que “toda a cultura é de esquerda, pelo que representa de contestação da injustiça, da desigualdade, da opressão”. “Cultura de direita” nunca haveria, portanto. Existiria, quando muito, uma “cultura conservadora”, cujos contornos, porém, Sena não especificou. Referiu, noutro lugar, que “a “esquerda” é por necessidade uma forma superior de inteligência”, razão pela qual se mostrava impressionado por muita da esquerda portuguesa “ser tão boçal”, e, mais grave ainda, por faltar à verdade aos cidadãos, preocupando-se tão-só em “vender o seu peixe”, “sem escrúpulo nem rebuço”.
Em matéria de costumes, revelou-se um liberal radical, alguém que entendia que “numa sociedade equilibrada e livre, a “moral” não deve exceder o nível de apenas regulamentar a eficiência das relações sociais no âmbito da estrutura do Estado”. Contudo, e no que parecia ser uma atitude antifeminista, considerou que o “caso das Três Marias” fora mal apresentado na imprensa internacional, como se o livro tivesse sido atacado por apoiar o movimento das mulheres, quando tais ataques se dirigiram, isso sim, à obra em si, não ao tema nela versado. Afirmou-se, na ocasião, um defensor dos direitos das mulheres, um denunciante da “síndrome do machismo” patente na sociedade portuguesa (num verbete de dicionário dedicado ao amor, assinalou que “a mulher portuguesa sabe a que ponto os homens vivem no seu esófago ou no seu útero”)."
António Araújo, A política em Sena
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