100 de Sena (7)
"O problema da literatura no Brasil, dirá Sena, é “o medo que os brasileiros têm de que a sua literatura possa não ser suficientemente brasileira”, razão pela qual tendem a expulsar a literatura portuguesa de qualquer tipo de relação com ela, tornando-a, “paradoxalmente, mais estrangeira do que [as outras literaturas estrangeiras]”. A esta “obsessão da brasilidade” da crítica brasileira, Sena contraporá uma concepção não-romântica de literatura, já que, a seu ver, o Romantismo foi inventado “para colocar dificuldades no caminho de um claro entendimento do carácter internacional da literatura em si mesma”. Como pano de fundo deste combate crítico, Sena descreve repetidamente uma situação em que o Brasil funciona em Portugal como um mito, em articulação estreita com o do “mundo que o português criou”, e Portugal funciona no Brasil como o colonizador responsável por uma série de erros (a não criação de universidades, por exemplo) e desastres que não terminam porque, como não se esquece de notar, as classes dirigentes brasileiras desenvolveram desde a independência uma arte particular, que consiste “em mudar as coisas para que elas continuem a ser como eram dantes”.
Osvaldo Manuel Silvestre, Jorge de Sena e o Brasil
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