sábado, setembro 17

José Régio (17.09.1901 - 22.12.1969)


José Régio, Sebastião da Gama (esq.) e Cristovam Pavia (dir.), emPortalegre, em Fevereiro de 1951.

 

Com José Régiopseudônimo de José Maria dos Reis Pereira, Agustina Bessa-Luís manteve "um convívio animado de pequenas birras e grande admiração". Os verões em Vila do Conde, em que o escritor cavaqueava no seu círculo de amigos, recordou a escritora na celebração do centenário do seu nascimento, era de "um cenáculo de apóstolos com o seu mestre". Aprendeu muito com ele, "aprendi sobretudo a bondade. Havia um apostolado em volta do Régio que ele conseguia justamente porque era um homem bom. Eu não vinha de famílias exactamente boas; vinha de famílias perspicazes, agudas, críticas. E, por isso, a inocência dele parecia-me atroz. Mas o Régio ignorava olimpicamente o lado obscuro da natureza humana, que não lhe interessava nada, no fim de contas. Eu não sabia que era amiga do Régio. Até que soube que morrera e o fui ver a casa: foi então que tive a revelação do amor que sentia por ele".
“Vila do Conde 9 de Agosto de 1968,

            

               Meu querido Chico António (*):

Estou aflito com trabalho! Suponho que mesmo os que lidam comigo dia a dia sabem como vivo sempre com um vago, martirizante sentimento de “culpabilidade” por ter de fazer isto, e mais aquilo, e mais aquilo... e não chegar para tudo, e andar sempre atrasado... 
Nem sei como cheguei a ter uma espécie de “popularidade” que me encerra numa rede cujas malhas me tolhem e de que em vão procuro libertar-me. Tu não podes — não podes — imaginar como as contínuas revisões de provas, os pedidos de resposta a inquéritos e entrevistas, a correspondência acumulada, os originais publicados ou inéditos sobre quais me solicitam opinião, etc., etc., (não falando já dos artigos ou livros novos que gostaria de escrever) me chegam a fazer a vida negra. 
(...)
— Quanto à tua Amiga Anne: Decerto lhe escreverei, nem que não grandes coisas. (Sempre me sinto constrangido ao escrever numa língua que não a minha). Simplesmente, é preciso esperar o momento. Quando lhe escreveres diz-lhe isto, e que me desculpe. De resto, e aqui para nós, eu gostaria de ir ao arrepio da vida moderna, e fazer tudo com vagar e tempo. A publicação das minhas “Obras Completas”, empreendida pela Portugália, exige-me não só revisões de provas como certas correcções do texto que tomam horas e horas... “A Salvação do Mundo”, por exemplo, foi bastante corrigida, embora em pormenores, na reedição que aparecerá dentro de um ou dois meses.

Do teu sempre amigo, 
José Régio” 

(*) Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, poeta sob o pseudónimo de Cristovam Pavia, filho de Francisco Bugalho, poeta da geração da revista “presença”, natural de Castelo de Vide. 

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