"Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado. Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas «melhore o momento presente», exclamava. E acrescentava: «Estamos vivos agora.» E comentava com desgosto: «Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar.» A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência já, pois só na sequência dos agoras é que você existe."
Clarice Lispector, Crónicas, no ”Jornal do Brasil” (1968)
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Ou, em definitivo, por ele próprio:
“Há leis injustas : vamos limitar-nos a obedecer-lhes, ou esforçarmo-nos por alterá-las? E vamos obedecer-lhes até o conseguirmos, ou transgredimo-las desde já? Geralmente os homens, sob um governo como este, creem que devem esperar até que convençam a maioria a alterar essas leis. Creem que, se resistirem, o remédio será pior do que o mal. Mas a culpa de o remédio ser pior do que o mal é do próprio governo. É ele que o torna pior. Porque é que não se mostra mais empenhado em antecipar-se e em propor uma nova reforma? Porque é que não valoriza essa sua minoria sensata?”
Henry David Thoreau, A Desobediência Civil e Outros Ensaios, tradução de Inês Dias, Relógio d'Água, 2017, p. 20.
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