Ecologia profunda e de superfície
"Se uma ecologia de superfície nos coloca, de algum modo, na posição de “somos todos produtores de beatas poluentes” (ou pelo menos, de plásticos), uma ecologia profunda mostrará necessariamente que isso não é igual (sobretudo, do ponto de vista político) aos cruzeiros que, em Lisboa, são recebidos num terminal que se situa quase no centro da cidade, com efeitos altamente nefastos, sentidos sobretudo pelos habitantes da Baixa e de Alfama. Cada um desses cruzeiros polui muito mais do que muitos milhares de carros que as pessoas utilizam para ir para o trabalho e regressar a casa. Importa, sem dúvida, adoptar medidas que penalizem gestos tão enraizados, mas nefastos, como deitar beatas para o chão. Mas incidir sobre as culpas da “espécie humana” é uma mistificação e conduz à paralisia política. E não pode servir de base à contestação dos interesses privados do “business as usual”, seja ele a do turismo de luxo servida pelos cruzeiros que atracam no terminal do Jardim do Tabaco, ou os restos do tabaco sem jardim nem terminal que atracam por todo o lado. Só uma ecologia profundamente política, e não assente em vacuidades, é capaz de agir sobre as causas e não meramente sobre os efeitos."
António Guerreiro,
Publico.
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