
"Não é um daqueles autores que quando os lemos está lido. Agustina é uma espécie de continente que me ocupa a vida inteira. Quando a li pela primeira vez, fiquei com a sensação que era uma autora que eu ia ler até ao fim da vida. Não só porque é uma autora com uma obra vasta, como exige um mergulho nessa obra."— Pedro Mexia.
No adeus suscitou as habituais reacções extremadas: pelo silêncio ou pela crítica velada ouvimos e lemos a rejeição por parte daqueles que lhe criticam a arquitectura estrutural, improvisada e remendada, dizem, ou a paixão viciante dos que sabem estar a sempre a ler, com ela, um romance único.
Talvez António José Saraiva tenha sido quem melhor anteviu a sua ordem de grandeza: "Agustina será reconhecida quando, com a distância, se puder medir toda a sua estatura, como a contribuição mais original da prosa portuguesa para a literatura mundial. Ainda está demasiado perto de nós para que possamos desenhar o contorno do seu esplendor, que, como acontece em todos os casos de genialidade pura, é ainda invisível a muito dos seus contemporâneos".
Pela sua morte elevou-se um coro público de superlativos e hipérboles que, para António Guerreiro, foram "mobilizações circunstanciais dos entusiasmados sem nenhum conteúdo, apenas fascinados por si mesmos". Foi acompanhado por Vasco Pulido Valente, no seu Diário, que também criticou "a multidão de devotos" que teceram laudas hiperbólicas a Agustina, afirmando que ele, Vasco, "se excluiu dessa imensa multidão": "Agustina não é uma grande autora internacional (…) é uma filha de Entre Douro e Minho, que nunca percebeu o que ficava para além das fronteiras em que sempre se fechou".
Creio que nos salvou a "visão mística" de Gonçalo M. Tavares que considerava Agustina uma "extraterrestre", mas o assunto é delicado. Nunca lhe foi perdoada a mulher política que foi, não porque o foi, mas pela escolha do lado que fez. Uma confusão como achá-la uma mulher perigosa e não perceber que, afinal, era só uma pessoa perigosa na medida em que conhecia profundamente a natureza humana. (E isso é, de facto, um perigo).
Não a desejam muito. E para saber de quem se está a falar, bastaria recordar quem nem uma linha escreveu sobre a monumental obra de três volumes, editada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que reuniu os artigos e ensaios que a escritora publicou na Comunicação Social, entre 1951 e 2007. Quina também era uma mulher mais capaz "de dedicação que de paixão", uma mulher que preferia ser admirada a desejada. Não se incomodem.
Pela sua morte elevou-se um coro público de superlativos e hipérboles que, para António Guerreiro, foram "mobilizações circunstanciais dos entusiasmados sem nenhum conteúdo, apenas fascinados por si mesmos". Foi acompanhado por Vasco Pulido Valente, no seu Diário, que também criticou "a multidão de devotos" que teceram laudas hiperbólicas a Agustina, afirmando que ele, Vasco, "se excluiu dessa imensa multidão": "Agustina não é uma grande autora internacional (…) é uma filha de Entre Douro e Minho, que nunca percebeu o que ficava para além das fronteiras em que sempre se fechou".
Creio que nos salvou a "visão mística" de Gonçalo M. Tavares que considerava Agustina uma "extraterrestre", mas o assunto é delicado. Nunca lhe foi perdoada a mulher política que foi, não porque o foi, mas pela escolha do lado que fez. Uma confusão como achá-la uma mulher perigosa e não perceber que, afinal, era só uma pessoa perigosa na medida em que conhecia profundamente a natureza humana. (E isso é, de facto, um perigo).
Não a desejam muito. E para saber de quem se está a falar, bastaria recordar quem nem uma linha escreveu sobre a monumental obra de três volumes, editada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que reuniu os artigos e ensaios que a escritora publicou na Comunicação Social, entre 1951 e 2007. Quina também era uma mulher mais capaz "de dedicação que de paixão", uma mulher que preferia ser admirada a desejada. Não se incomodem.
*
- Ficções
- 1948 - Mundo Fechado (novela)
- 1950 - Os Super-Homens (romance)
- 1951-1953 - Contos Impopulares (romance)
- 1954 - A Sibila (romance)
- 1956 - Os Incuráveis (romance)
- 1957 - A Muralha (romance)
- 1958 - O Susto (romance)
- 1960 - Ternos Guerreiros (romance)
- 1961 - O Manto (romance)
- 1962 - O Sermão do Fogo (romance)
- 1964 - As Relações Humanas: I - Os Quatro Rios (romance)
- 1965 - As Relações Humanas: II - A Dança das Espadas (romance)
- 1966 - As Relações Humanas: III - Canção Diante de uma Porta Fechada (romance)
- 1967 - A Bíblia dos Pobres: I - Homens e Mulheres (romance)
- 1970 - A Bíblia dos Pobres: II - As Categorias (romance)
- 1971 - A Brusca (contos)
- 1975 - As Pessoas Felizes (romance)
- 1976 - Crónica do Cruzado OSB (romance)
- 1977 - As Fúrias (romance)
- 1979 - Fanny Owen (romance histórico)
- 1980 - O Mosteiro (romance)
- 1983 - Os Meninos de Ouro (ação)
- 1983 - Adivinhas de Pedro e Inês (romance histórico)
- 1984 - Um Bicho da Terra (romance histórico, biografia de Uriel da Costa)
- 1984 - Um Presépio Aberto (narrativa)
- 1985 - A Monja de Lisboa (romance histórico, biografia de Maria de Visitação)
- 1987 - A Corte do Norte (romance histórico)
- 1988 - Prazer e Glória (romance)
- 1988 - A Torre (conto)
- 1989 - Eugénia e Silvina (romance)
- 1991 - Vale Abraão (romance)
- 1992 - Ordens Menores (romance)
- 1994 - As Terras do Risco (romance)
- 1994 - O Concerto dos Flamengos (romance)
- 1995 - Aquário e Sagitário (narrativa)
- 1996 - Memórias Laurentinas (romance)
- 1997 - Um Cão que Sonha (romance)
- 1998 - O Comum dos Mortais (romance)
- 1999 - A Quinta Essência (romance)
- 1999 - Dominga (conto)
- 2000 - Contemplação Carinhosa da Angústia (antologia)
- 2001 - O Princípio da Incerteza: I — Jóia de Família (romance)
- 2002 - O Princípio da Incerteza: II — A Alma dos Ricos (romance)
- 2003 - O Princípio da Incerteza: III — Os Espaços em Branco (romance)
- 2004 - Antes do Degelo (romance)
- 2005 - Doidos e Amantes (romance)
- 2006 - A Ronda da Noite (romance)
- 2018 - Deuses de Barro (romance escrito em 1942)
- Biografias
- 1979 - Santo António
- 1979 - A Vida e a Obra de Florbela Espanca (biobibliografia)
- 1979 - Florbela Espanca
- 1981 - Sebastião José
- 1982 - Longos Dias Têm Cem Anos — Presença de Vieira da Silva
- 1986 - Martha Telles: o Castelo Onde Irás e Não Voltarás (ensaio e biografia)
- Teatro
- 1958 - Inseparável ou o Amigo por Testamento
- 1986 - A Bela Portuguesa
- 1992 - Estados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard
- 1996 - Party: Garden-Party dos Açores — Diálogos
- 1998 - Garret: O Eremita do Chiado
- Crónicas
- 1961 - Embaixada a Calígula (relato de viagem)
- 1979 - Conversações com Dimitri e Outras Fantasias (crónicas)
- 1980 - Arnaldo Gama — “Gente de Bem”
- 1981 - A Mãe de um Rio (texto e fotografia)
- 1981 - Dostoievski e a Peste Emocional
- 1981 - Camilo e as Circunstâncias
- 1982 - Antonio Cruz, o Pintor e a Cidade
- 1982 - D.Sebastião: o Pícaro e o Heroíco
- 1982 - O Artista e o Pensador como Minoria Social
- 1984 - ”Menina e Moça” e a Teoria do Inacabado
- 1986 - Apocalipse de Albrecht Dürer
- 1987 - Introdução à Leitura de “A Sibila”
- 1988 - Aforismos
- 1991 - Breviário do Brasil (diário de viagem)
- 1994 - Camilo: Génio e Figura
- 1995 - Um Outro Olhar sobre Portugal (relato de viagem), com fot. de Pierre Rossollin, e il. de Maluda
- 1996 - Alegria do Mundo I: escritos dos anos de 1965 a 1969
- 1997 - Douro (texto e fotografia), em colab. com Mónica Baldaque
- 1998 - Alegria do Mundo II: escritos dos anos de 1970 a 1974
- 1998 - Os Dezassete Brasões (texto e fotografia)
- 1999 - A Bela Adormecida
- 2000 - O Presépio: Escultura de Graça Costa Cabral (texto e fotografia), em colab. com Pedro Vaz
- 2001 - As Meninas (texto e pintura)
- 2002 - O Livro de Agustina (autobiografia)
- 2002 - Azul (divulgação), em colab. com Luísa Ferreira
- 2002 - As Estações da Vida (texto e fotografia), fot. Jorge Correia Santos
- 2004 - O Soldado Romano, com il. de Chico
- 2016 - Ensaios e artigos
- Literatura Infantil
- 1983 - A Memória de Giz, com il. de Teresa Dias Coelho
- 1987 - Contos Amarantinos, com il. de Manuela Bacelar
- 1987 - Dentes de Rato, com il. de Martim Lapa
- 1990 - Vento, Areia e Amoras Bravas, com il. de Mónica Baldaque
- 2007 - O Dourado, com il. de Helena Simas
- Adaptações cinematográficas
- 1981 - Francisca, real. Manoel de Oliveira, romance Fanny Owen
- 1993 - Vale Abraão, real. Manoel de Oliveira, romance Vale Abraão
- 1995 - O Convento, real. Manoel de Oliveira, com Catherine Deneuve e John Malkovich, romance As Terras do Risco
- 1996 - Party, real. Manoel de Oliveira, peça Party: Garden-Party dos Açores
- 1998 - Inquietude, real. Manoel de Oliveira, conto A Mãe de um Rio, Prêmio Globo de Ouro (1999) para a melhor realização
- 2002 - O Princípio da Incerteza, real. Manoel de Oliveira, romance O Princípio da Incerteza
- 2005 - Espelho Mágico, real. Manoel de Oliveira, romance A Alma dos Ricos
- 2009 - A Corte do Norte, real. João Botelho
ADENDA
Na rádio (what else?) a semana à vida e obra literária de Agustina Bessa-Luís com conversas sobre Agustina com Eduardo Lourenço, Manoel de Oliveira, António Mega Ferreira e Lourença Baldaque, incluindo a voz da própria escritora, em crónicas gravadas para a RDP e em entrevista à Rádio pública.
Realização de Luís Caetano
2ªfeira, 3 de Junho
No dia da morte Agustina Bessa-Luís
Ouvir aqui
3ª feira, 4 de Junho
Agustina Bessa-Luís no olhar de Eduardo Lourenço, Manoel de Oliveira, António Mega Ferreira
Ouvir aqui
5ª feira, 6 de Junho
Lourença Baldaque, sobre os três volumes de Ensaios e Artigos de Imprensa.
Ouvir aqui
Sem comentários:
Enviar um comentário