"O latim mostra-nos a ligação entre as palavras. Abre-nos o horizonte completo do sentido da língua que falamos, todos os dias, nos vários países de expressão lusófona. O latim mostra-nos que «Infância» é o estado em que não se consegue falar, pois é a negação de «fārī» em latim, verbo que significa «dizer». Ser criança é não ter direito a fala própria. (...) «Nádega» vem da palavra latina «natis» (com o mesmo sentido de «nádega»), que se relaciona com a palavra grega «nōton» (νῶτον), que significa «dorso». Para os antigos, pelos vistos, ver alguém de costas era olhar só para o traseiro. Quando Homero fala do «amplo dorso do mar», está a pensar, talvez, no mar como enormíssima bunda. (...) Uma pessoa «meticulosa» é, desculpem-me os compulsivos-obsessivos, uma pessoa cheia de medo, porque o étimo do adjetivo é «metus» (a palavra latina para «medo»). (...) Alguns linguistas, descontentes com a ideia de que a palavra ordinária para sémen («esporra») vem da palavra que significa um vegetal de formato fálico, argumentam que deriva do grego σπέρμα («esperma»); mas «porra», «porrada» e «esporra» vêm, antes, do latim «porrum». Basta ir ao norte de Portugal por altura do São João para ver os alhos fálicos com seus bolbos iguais a testículos. Já agora, «colhões» derivam da palavra latina «cōleī» («testículos»), vocábulo que já na Roma antiga era usado com intuito real e intuito metafórico. Petrónio escreve no Satyricon «sī nōs cōleōs habērēmus» («se nós tivéssemos colhões») com o sentido «se fôssemos machos a sério». Mas Marcial fala em «depilātōs cōleōs» («colhões depilados»), o que nos indica que os antigos romanos já eram fãs do que se chama hoje, em inglês, «manscaping».(...) Finalmente: quem pronuncia mais corretamente? Os portugueses, que dizem «pénis»? Ou os brasileiros, que dizem «pênis»? De acordo com a origem latina da palavra, são os brasileiros que usam a pronúncia correta, já que se trata de um «e» longo em latim («pēnis»). A palavra latina para «pénis» era originalmente «pĕsnis», que evoluiu para «pēnis». O étimo «pes-», com outra realização vocálica, está presente na palavra grega para o órgão genital masculino, «posthē» (πόσθη), que curiosamente é feminina. Tal como «piroca»."
Frederico Lourenço, fb.
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