terça-feira, dezembro 18

E para que serve todo o resto que não serve?

Não sou nenhum António Guerreiro para começar a ler “ela deu-me eternidade em papel de aniversário...” e querer logo fugir para uma grande capital europeia, mas estes Poemas Escolhidos, do (e pelo) Pedro Mexia, faz-me pensar se é mesmo necessário comprar tanto livro “moderno”.

Programas ideológicos e literários à parte, como não gostar da justiça poética que muitas vezes consegue nos seus textos? Recordo-me de um recente, talvez porque também tenha passado por aqueles anos com a mesma fúria e paixão, quando ofereceu a "Forever Young", dos Alphaville, o lugar de pódio devido. Uma extraordinária glosa da forma exaltante e opressiva do tempo que passa e que vivemos (o fim dos tempos?), que nem poemas mais forte derrotam. Uma luz que "os amantes, apenas esboçados, dançam ´com estilo´ mas ´temporariamente´”quando, em plena guerra fria, olhavam o céu "com esperança no melhor, à espera do pior”.


Na ausência de Vasco Graça Moura não reconheço melhor herdeiro intelectual de uma área politica completamente esvaziada, e na crítica literária até concordo que inovou no sentido de lhe dar uma técnica de “saber fazer” e ser explícito no gosto, não achando que as divergências são sempre falhas "teóricas". Mas esta poesia de tom irremediavelmente elegíaco e confessional torna-se rapidamente morna ao nível da ninharia. E quando se salva, intriga-nos: para que serve todo o resto que não serve? É por isso que gosto muito desta:

CHANDOS DISSE

Chandos disse ancinho que significa?

Disse vaso.
Disse gardénias.
Coisas denotativas, descomplicadas, que significam?
Todas aqui, ao chão de um jardim, que significam?,
disse, sentado, sensato, senil.

 (in “UMA VEZ QUE TUDO SE PERDEU”).

Sem comentários:

Enviar um comentário