Em termos de ficção, ela lia muito e tinha gostos muito amplos, desde a norte-americana Joyce Carol Oates até, claro, às irmãs Brontë. O autor preferido de Paula era Eça de Queirós, um escritor fascinante, ao estilo de Zola e Flaubert. Mas ela adorava sobretudo poesia. Essa paixão vinha do tempo da escola inglesa em Portugal. Contou-me histórias muito engraçadas e muito estranhas sobre a escola dela. Era uma espécie de colégio privado inglês, meio extravagante e louco. Os colegas eram os filhos de diplomatas e das famílias do vinho do Porto e da cortiça, que nessa altura eram todas inglesas. Nessa escola ensinaram-na a ler e a decorar poesia — os mesmos poemas que eu aprendi na escola em Inglaterra. Anos mais tarde, sobretudo nos últimos anos da vida dela, a poesia tornou-se cada vez mais importante. Líamos poesia a toda a hora. Eu lia para ela, cada noite, uma a duas horas, por vezes mais tempo.
Que tipo de poesia?
Os românticos ingleses, sobretudo. Keats, Wordsworth, Tennyson, que ela adorava. Mas também Matthew Arnold ou poetas mais tardios, como John Masefield e T. S. Eliot. Paula era filha única e os pais encorajavam-na muito, pois o pai era anglófilo e grande amante de literatura. Emocionou-me muito quando fiquei na antiga casa dele, no Estoril, e vi tantos livros ingleses nas prateleiras — as mesmas edições que eu via na casa dos meus pais quando era criança. A literatura inglesa era central na imaginação de Paula. Mas também gostava de alguma poesia moderna.
Nunca mencionava a poesia portuguesa?
Não. Interessava-se muito mais pela poesia inglesa. Sabia de cor tantos poemas. Ainda guardava a famosa antologia “Golden Treasury”, que usávamos na escola. Odiava Fernando Pessoa. Eu tinha muito interesse em Pessoa, mas ela não gostava dele por razões políticas. Não apreciava o sebastianismo e a política reacionária associada a Pessoa.
A poesia deve ter sido um consolo muito grande nos últimos anos da vida dela.
Foi, de facto. Mesmo nos últimos meses, quando já estava acompanhada pelos cuidadores que faziam o apoio domiciliário, eles costumavam telefonar-me à noite, quando ela já estava deitada, pronta para dormir. Ela escolhia os poemas ou então eu dizia vamos ler este ou aquele.
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