“Estamos numa fase relativamente totalitária, por causa da língua, que não é a linguagem.”
*
Se Nouvelle Vague não foi uma família monoparental, teve muitos pais e algumas mães, O Acossado, a sua primeira longa-metragem, foi a explosão. Um drama policial a preto e branco em que —Belmondo é um criminoso fugido à polícia e Seberg uma estudante norte-americana em Paris — os actores trabalharam sem conhecerem de antemão o guião, escrito à medida que o filme avançava. Depois, O Livro de Imagem ficará como opus derradeiro e suas monumentais Histoire(s) du Cinéma a reflexão a que estamos obrigados.
Com o Maio de 1968, deixou de assinar em nome próprio, cria o colectivo Dziga Vertov, designação que homenageia o cineasta russo de vanguarda, e entrega-se cao cinema político, produzindo filmes em que aborda a invasão soviética da então Checoslováquia (Pravda, 1969) ou a guerra na Palestina (Até à Vitória, 1970), e chegando mesmo a fazer de um dos líderes do movimento estudantil de 68, Daniel Cohn-Bendit, guionista em Le Vent d’Est (1969).
Na década de 80, com Salve-se Quem Puder, o cinema de Godard recupera um certo desejo de ficção, a que títulos como Paixão (1982), Nome: Carmen (1983), Detective (1985) e Eu Vos Saúdo, Maria (1985), filme que gerou grande polémica e foi proibido em vários países, dão expressão.
Em meados dos anos 90, o cineasta, que parecia relativamente adormecido, reaparece com um filme-diário que está entre os preferidos de muitos godardianos – JLG por JLG (1994) –, dando início a uma derradeira fase criativa que inclui várias curtas-metragens e que tem nas longas Filme Socialismo (2010), Adeus à Linguagem (2014) e O Livro de Imagem (documentário, 2018) referências obrigatórias.
De acordo com a sua mulher, Anne-Marie Miéville, e os seus produtores, Godard “morreu pacificamente na sua casa, rodeado pelos que lhe eram mais queridos”, em Rolle, nas margens do lago de Genebra. “Não estava doente, estava simplesmente exausto”.
Sem comentários:
Enviar um comentário