Espinosa (Amsterdão, 24 de novembro de 1632 — Haia, 21 de fevereiro de 1677), foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, ao lado de René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa que havia fugido da inquisição lusitana, e é considerado o fundador da crítica bíblica moderna. Como convencer alguém a lê-lo?
"Espinoza é um dos poucos filósofos que toda a gente deveria ler, para saber que todas as preocupações modernas são antigas, para ganhar juízo, para espairecer com a inteligência, a altivez moral, a perspicácia, a generosidade dele.
A Ética de Espinoza é um livro que atravessa as nossas vidas. Pegamos nele quase por acaso, para ver se ainda tem alguma coisa para nos dizer - e tem sempre. São a clareza e a ambição de Espinoza que atraem e perduram. Diz grandes coisas da maneira mais simples que se pode dizê-las. Desprezava quem não fosse capaz de ser prontamente compreendido pelos outros. Adorava os outros - é dele uma das defesas mais irrebatíveis da amizade - e ser claro era uma das maneiras que tinha de reconhecer a utilidade dos amigos, dada a insuficiência de cada um de nós: a incapacidade para chegar sozinho às verdades que nos podem ajudar a compreender o que andamos aqui a fazer.
Espinoza é um dos poucos filósofos que toda a gente deveria ler, para saber que todas as preocupações modernas são antigas, para ganhar juízo, para espairecer com a inteligência, a altivez moral, a perspicácia, a generosidade dele.
Infelizmente, os leitores que Espinoza procurava deixam-se assustar pelo matagal de explicadores que tem vicejado à volta dele. Esses matagais, longe de fazerem medo, costumam ser bom sinal, sinal que ali há pano para mangas.
Quando se fala desta clareza é impossível não pensar no trabalho que fazia para ganhar a vida - a polir lentes - e na maneira como morreu aos 44 anos, como os pulmões cheios de poeira de pedra.
Acabou a Ética em 1675 mas quando foi publicada em 1677, já ele tinha morrido em Fevereiro.
É de 1675 uma carta dele ao amigo Henrique Oldenburg: “espalhou-se por toda a parte um boato segundo o qual está no prelo um livro meu sobre Deus e que nesse livro eu me empenhava a mostrar que Deus não existia. E muitas pessoas acreditaram nesse boato”. É incrível mas o boato dura até hoje.
Leia a Ética e pasme-se mais ainda."
Miguel Esteves Cardoso, Público
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