Paulo Leminski foi professor, roteirista de BD, cronista, jornalista, revisor, músico (por exemplo “Verdura” de Caetano, tem música e letra suas), mas dos 2 aos 14 anos foi seminarista, em São Paulo. Isso fê-lo contactar com diversas línguas, latim, hebraico, italiano, francês, espanhol, como inglês e teve acesso a uma boa biblioteca. Aos 18 anos começou a fazer o esboço do seu primeiro livro: Catatau, definido pelo próprio como “um romance-ideia”. Conta a insólita ida do filósofo René Descartes ao Recife durante a ocupação holandesa. Um texto experimental que se filia à grande tradição das novelas satíricas e filosóficas. Há quem considere o livro emblemático da vida dele apesar de ter 18 anos quando o escreveu. Há várias línguas presentes dentro desta obra, palavras inventadas, palavras construídas para dar um sentido muito maior a alguma coisa. Paulo Leminski chegou a fazer várias traduções desta obra para inglês. Por isso o “múltiplo” no título da exposição.
O QUE VEMOS:
Logo à entrada uma foto gigante do poeta brasileiro abraçado à também poeta brasileira Alice Ruiz, que é a curadora-mor desta exposição.
Depois, duas mesas envidraçadas, com manuscritos e originais, onde se pode ver três documentos dactilografados em que escritor explica o que o fez pensar em Catatau.
Além de vídeos, imagens e som tem ainda vários placares com QR codes que permitem que o visitante veja no seu telemóvel, por exemplo, um filme de animação brasileiro de 2009, dirigido por Paulo Munhoz, baseado no livro Guerra Dentro da Gente de Paulo Leminski; ouça uma playlist das suas composições ou aceda à lista dos seis mil livros que integravam a sua biblioteca e integram o espólio em posse da família.
Uma fotografia em tamanho real reproduz uma das paredes do escritório de Paulo Leminski. Está lá a estante com os livros, os prémios que ganhou postumamente e a escrivaninha com a sua máquina de escrever. Uma imagem de Descartes, o filósofo que está relacionado com o livro Catatau; outra do poeta Ezra Pound, uma das suas referências, e um quadro com um poema do Augusto de Campos que foi musicado por Caetano Veloso.
Numa das mesas com originais há papéis cortados ou rasgados e não foi uma acção do tempo. Podemos ler neles uma ideia que sozinha parece até não ter muito sentido. Ele anotava em envelopes que já tinham outras coisas escritas, em papéis de maços de cigarros, em guardanapos de restaurantes. Em cartões-de-visita, publicidades, tem até boletim de escola. E por ali começava tudo...
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