No mesmo ano em que se revelou como dramaturga, causou escândalo na sociedade lisboeta ao deixar o marido para ir viver com o romancista e crítico literário João Gaspar Simões, com quem co-assinou a tradução do romance Guerra e Paz, de Tolstói, um dos seus muitos trabalhos de tradutora, que abarcam ainda autores como Dostoiévski, Pirandello, Léon Bloy, Erich Maria Remarque ou Graham Greene.
Em 1964 publicou Viver Com os Outros, o livro que a consagrou como romancista: vencedor do prémio Camilo Castelo Branco, teve várias reedições ainda antes do 25 de Abril. Maria Alzira Seixo chamou-lhe um “romance admirável” e Óscar Lopes elogiou-lhe o “equilíbrio estético” e observou que a narrativa de Isabel da Nóbrega “sugere um grande, um inesgotável conhecimento de casos e coisas, coisas vividas, textos religiosos e literários, terminologias científicas, problemas de casuística familiar, conhecimentos colhidos em campos heterogéneos de convivência ou de informação que os jornais não registam, colhidos em viagens, leituras e arte, uma fina percepção de motivações, sobretudo femininas”.
Autora de duas obras que contribuíram para a renovação da ficção portuguesa na década que antecedeu o 25 de Abril — o romance Viver Com os Outros (1964) e o livro de contos Solo para Gravador (1973) — foi influenciada pelo nouveau roman. De tom progressista e feminista foi marcada por um uso intensivo e singular do monólogo e do diálogo e dedicada cronista - desde o final dos anos 60 até à década de 90, escolheu algumas três mil crónicas, espalhadas por jornais e revistas como A Capital, a cuja equipa fundadora pertenceu, o Diário de Lisboa, o Diário de Notícias, O Primeiro de Janeiro ou a Vida Mundial, tendo ainda mantido programas regulares na televisão e na rádio.
Quando publica Solo para Gravador (1973) - um extenso monólogo ditado para um gravador por uma personagem masculina - já vivia há alguns anos com José Saramago, a sua mais famosa relação e a que fez correr mais tinta, tendo sido muitas vezes sugerido que a carreira literária do futuro Nobel da Literatura ficou a dever bastante ao magistério e às relações de Isabel da Nóbrega com quem viveu até 1986 e a quem dedicou a primeira edição de Memorial do Convento.
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