quinta-feira, maio 5

Dia da Língua Portuguesa

 

“Escrever na própria língua com que o mundo se abriu para nós, é fazer a luz de novo. Damos às palavras novos padrões, fazemos delas sinais para assentar os templos e fechar as prisões. A língua portuguesa, ferro de marcar as ideias, como um rebanho solto no campo, deve ser usada como milagre e como sabedoria. Do primeiro tem a iniciação e a sensibilidade; da segunda tem a forma e a aprendizagem. Quem quiser escrever livros, conheça o seu buril, e a sua goiva e formão. Quem quiser fazer versos, tem que pedir ao céu carinhos, e ele os concede como inspirações. Em todas as vocações há descoberta; depois emprego e, a seguir, maestria. Quem quiser dizer palavras, não as escreva. A escrita é para quem deseja produzir memória e ser cuidadoso da sua eternidade. A língua portuguesa é a escada com que se chega às longas viagens de uma identidade. Quer dizer: do coração colectivo da terra em que nascemos.”
Agustina Bessa-Luís, CADERNO DE SIGNIFICADOS (Guimarães Ed., 2013)

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