sexta-feira, maio 7

Alto e pára o baile!

 

"E se é verdade que um rasto de puritanismo parece contaminar l’air du temps, convinha que tais odores bafientos não fossem sempre descarada e selectivamente invocados entre nós, com o intuito de encobrir situações em que os agressores nunca têm rosto nem nome. Até porque também nós, mulheres, mais ou menos letradas, nos lembramos da célebre frase de Tancredi, sobrinho do Príncipe de Salina, em O Leopardo de Lampedusa: “Se vogliamo che tutto rimanga com’è, bisogna che tutto cambi”. Em português, para se perceber melhor: “Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”.

Mexer com valores milenares nunca seria fácil, mas ver homens adultos argumentar com subtilezas tão pueris como ser complicado distinguir entre sedução e assédio, no mínimo não abona muito a favor da sua maturidade.

E no fundo não tem nada que saber e já estava tudo no Avanti de Billy Wilder, esse realizador e ser humano extraordinário. Explica Miss Piggott (Juliet Milles) ao industrial Armbrister Jr. (Jack Lemmon): “Uma rapariga gosta que lhe perguntem, de ter a oportunidade de dizer não […] Não me importo de ser tratada como objecto sexual, mas é como em qualquer outro jogo, há que jogar de acordo com as regras ou o jogo perde a piada”.

Público

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