
"Os radicais de uma certa esquerda querem ir mais longe e, na sua exigência, estão a alimentar os radicais de direita que querem andar para trás. Dos dois lados há um instinto de imposição das suas verdades aos outros. Ambos abdicam de encarar a História na sua complexidade. Uns e outros retroalimentam-se com o veneno da intolerância.Há até quem não se envergonhe por assinar uma petição em favor da deportação de um cidadão português, por incendiário que seja nas suas posições. A História da colonização foi o que foi. Ver o seu lado sinistro, sem contexto civilizacional, como se fosse uma deliberação consciente de um Estado moderno como a que levou ao Holocausto, é um erro. Vê-la como o testemunho de um povo de heróis, um absurdo. Tem de haver uma zona de conforto para todas as posições. A liberdade e a responsabilidade da democracia.
Portugal fez-se como projecto identitário à custa da ilusão e de dogmas que a verdade histórica demoliu. Lê-lo e criticá-lo é indispensável: destruir o seu imaginário é uma quimera. Uma parte dos portugueses nunca o aceitaria. Como dizia Eduardo Lourenço, o passado não se repara com a criação de um metafórico tribunal da inquisição para “pôr na pira a história deste pequeno país."
in Público
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