sábado, outubro 5

“Que baú esquisito a cabeça, o que ela abandona e o que ela armazena...”


O centro gravítico do novo romance de António Lobo Antunes situa-se em janeiro de 1961, na Baixa do Cassange, norte de Angola, junto à fronteira com o Congo. Foi ali que rebentou o conflito que viria a ser conhecido como a “Revolta do Algodão”, o ponto central da luta anticolonial de Angola. No seguimento dos protestos dos trabalhadores das fazendas de algodão, o exército português levou a cabo violentas ações de intimidação e repressão. Mas o que está presente é o início do lento crepúsculo do império, naquela típica polifonia do ALB, a que parte sempre do fundo das personagens. Aqui temos três: a filha de um fazendeiro submisso, um chefe de posto ganancioso e um coronel de Viseu que nunca conseguiu abandonar os seus traumas. Três personagens para vinte e um capítulos e para alternar com António Mariano, o rebelde apoiado pelos congoleses que espalhou o caos nas sanzalas, incentivando os camponeses sublevados a incendiaram cubatas e armazéns de algodão. A personagem feminina vive o passado encerrada na brutalidade do pai e na clausura da mãe, tal como os dois personagens masculinos que o vivem encerrados nos seus próprios traumas. A revolta do Algodão é pretexto para o sono, o vazio e a extinção.

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