Soube-se ontem: Rutger Hauer morreu na sexta-feira, aos 75 anos, após uma breve doença. Mas isto também interessa: o realizador Guillermo del Toro terá sido um dos primeiros a prestar-lhe homenagem, considerando-o um intérprete "intenso, profundo, genuíno e magnético, que levou verdade, força e beleza aos filmes em que participou". Actor recorrente do cineasta Paul Verhoeven, com quem se estreou em 1969 na série televisiva Floris, e que o dirigiu depois em filmes como Delícias Turcas (1973), Soldier of Orange (1979) ou Amor e Sangue (1983), foi ainda uma presença marcante em filmes como Fim-de-Semana com Osterman (1983), de Sam Peckinpah, A Mulher Falcão (1985), de Richard Donner, Terror na Auto-Estrada (1986), de Eric Red, ou a A Lenda do Santo Bebedor (1988), de Ermanno Olmi. (Em 2013, desempenharia um pequeno papel no filme português RPG, incursão de Tino Navarro e David Rebordão na ficção científica, a evitar). Não soube gerir com muita mestria a sua carreira e até é possível que todos pensemos, agora, unicamente no seu papel de replicant, no filme de Ridley Scott, deixando no esquecimento o mais brilhante psicopata que vi no cinema e que me ensinou, no seu papel em Terror na Auto-Estrada, que a minha mãe tem sempre razão: não se deve dar boleia a estranhos.
"Roubei a expressão do título a Primo Levi, não sem algum desconforto, mas para ilustrar uma tese que me parece virtuosa. Rutger Hauer morreu ontem e tem sido invariavelmente lembrado pelo papel que desempenhou em Blade Runner. Nada contra, é o trabalho dos jornais. Eu recordo Hauer sobretudo como o actor de The Hitcher (1986), que julgo ter sido traduzido entre nós como Terror na Auto-Estrada. O filme nunca chegará à Criterion Collection mas funciona muito bem como terror realista que passa a condicionar os nossos actos. Por causa deste filme, Hauer está para o acto de oferecer boleia como o tubarão branco de Jaws para o mergulho no mar. O dever de memória é isto: lembrar quem parte pela forma como nos marcou e não por aquilo que os jornais dizem que conta."
in Ouriquense.
No entanto, boleias à parte, ninguém diz melhor isto: "Time to die":
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