
Não valeram de muito, aos Rilo Kiley, antiga banda desta "decapitada" Jenny Lewis, os elogios derramados por Elvis Costello. Mas será injusto não reparar no efeito que tais palavras tiveram no reforço da acidez de alma disfarçada de candura da vocalista. Antes da música, repare-se nas capas dos últimos dois disco a solo e como ela quer deixar o seu veneno: On The Line (2019) e The Voyager (2014) enquadram-na na mesma forma, da cintura para cima e decapitada, mas a diferença está no vestido discreto de 2014 e no libidinoso e generosamente decotado de 2019. A coisa não será inocente em tempo de #MeToo, mas também não pretende anular a solidariedade com os seus pares que, como ela, trabalharam e denunciaram o comportamento de Ryan Adams. E como tudo funciona se, esgravatando, percebermos que este glamour pretende, afinal, ser uma homenagem à sua problemática mãe, heroinómana de longo curso e lounge singer em Las Vegas, morta em 2017. O aspecto, como o classicismo pop, esconde, "tocando" agora a música, o desencanto das "paredes permanentes e cor-de-rosa" mostrando que, apesar do cetim azul, "está ajoelhada o dia todo,/ lavando-se fielmente de alto a baixo"; canta: “there's nothing we can do but screw and booze and amphetamines”.
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