sexta-feira, janeiro 19

A Devida Comédia

"A colaboração da Rússia com o Irão, com a Coreia do Norte e com a China, evidencia contornos de alinhamento estratégico com implicações globais. O enfraquecimento do Ocidente colectivo e da sua liderança americana possibilita não apenas o aparecimento de um novo Eixo autocrático, mas incapacita as democracias de conterem a expansão dos conflitos regionais. Nos últimos dias assistimos a um aumento exponencial na cadência de ataques transfronteiriços. Nesta semana a Turquia atacou posições curdas no Norte da Síria e Norte do Iraque; o Irão atacou posições curdas nos mesmos países, e do grupo separatista do Baluchistão no Paquistão; a Jordânia atacou o Sul da Síria para destruir pontos de acesso ao tráfico de armas; os houthis do Iémen condicionam as linhas de navegação e actividade mercantil com impactos globais. Cabe à liderança política do mundo livre garantir a contenção do conflito e impedir a multiplicação de ataques transfronteiriços, sob pena da repetição histórica das guerras do século XX."

Manuel Poejo Torres, Público

"Quem és tu, Jane B.?"


A resposta é o próprio ciclo que o Batalha, no Porto, dedica à actriz e que, amanhã, tem início com A Piscina, de Jacques Deray. Ao longo de um mês, uma seleção de filmes fulcrais que acompanham e explicam as diferentes etapas da vida de Jane Birkin, artista multifacetada e emblema de uma geração. Blow-Up (1966), o primeiro filme em inglês do mestre Michelangelo Antonioni, onde protagonizou uma cena de nudez que causou escândalo no país, claro, mas toda a vibrante e extensa filmografia de Birkin, que atravessou diversos géneros, entre o cinema popular e o cinema de autor, somando colaborações com cineastas como Jacques Deray, Jacques Doillon, Agnès Varda, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette e James Ivory. Em 2017, a atriz assumiu mesmo o papel de realizadora em Boxes, que também será exibido.

Programa completo

La Piscine, Jacques Deray. 1969

Blow-Up, Michelangelo Antonioni, 1966

Wonderwall, Joe Massot, 1968

Dust, Marion Hänsel, 1985

La Traversée, Florence Miailhe, 2021

Boxes, Jane Birkin, 2007

Souvenirs of Serge, Jane Birkin, 2011

Kung Fu Master, Agnès Varda, 1988

domingo, janeiro 14

A Devida Comédia

"Neste difícil ano de 2024, em que os portugueses também terão o direito de escolher os seus representantes por três vezes, o voto dos taiwaneses dá esperança àqueles que acreditam que há um valor inegociável na democracia. Mesmo que isso faça muita impressão a vizinhos poderosos como a China ou a Rússia."
David Pontes, Público

quarta-feira, janeiro 10

A Devida Comédia


Maria João Marques, Público

Vénias & Salamaleques

 "Não quero misturar-me com um meio cultural que vive da comparação, da maledicência e muito pouco da arte. Será sempre difícil chegar a alguns patamares onde outros artistas chegam, porque não faço vénias nem salamaleques e não vou fazê-los."

Isabela Figueiredo (n.1 de Janeiro de 1963), Diário de Notícias de 17.08.2018

segunda-feira, janeiro 8

Globos de Ouro 2024


A cerimónia da 81ª edição dos Globos de Ouro decorreu esta madrugada em Los Angeles, numa noite que foi de sonho habitual para "Succession" e novo para "Rixa" e "The Bear", na televisão,  e épico para Christopher Nolan, no cinema, com o seu “Oppenheimer”. 

Nesta edição dos Globos de Ouro, a primeira desde a dissolução da Hollywood Foreign Press Association, também introduziu um novo prémio para distinguir o melhor entre os comediantes "stand-up" e o vencedor inaugural foi Ricky Gervais, com o seu especial "Armageddon". Ainda não se sabe se foi por isso, mas o comediante, que se viu envolto em controvérsia neste trabalho por incluir piadas (atenção piadas) sobre crianças com doenças fatais, não compareceu para receber a estatueta.


LISTA DE VENCEDORES NAS CATEGORIAS DE CINEMA:

Melhor Filme – Drama

“Oppenheimer”

Melhor Filme – Comédia ou Musical

“Pobres Criaturas"

Melhor Realização

Christopher Nolan, “Oppenheimer”

Melhor Ator – Drama

Cillian Murphy, “Oppenheimer”

Melhor Atriz – Drama

Lily Gladstone, “Assassinos da Lua das Flores”

Melhor Ator – Comédia ou Musical

Paul Giamatti, “Os Excluídos” (vencedor)

Melhor Atriz – Comédia ou Musical

Emma Stone, “Pobres Criaturas” (vencedor)

Melhor Ator Secundário

Robert Downey Jr., “Oppenheimer

Melhor Atriz Secundária

Da’Vine Joy Randolph, “Os Excluídos”

Melhor Argumento

“Anatomia de uma Queda”

Melhor Filme Estrangeiro


“Anatomia de uma Queda” (França)

Melhor Filme de Animação

“O Rapaz e a Garça”

Melhor Banda Sonora Original

Ludwig Görranson, “Oppenheimer”

Melhor Canção Original

“What was I Made For?”, de “Barbie” (Billie Eilish O’Connell, Finneas O’Connell)

Melhor Filme por Mérito Cinematográfico e Comercial

“Barbie”



LISTA DE VENCEDORES NAS CATEGORIAS DE TELEVISÃO:

Melhor Série Dramática

"Succession" (HBO)

Melhor Atriz em série dramática

Sarah Snook, "Succession" (HBO)

Melhor Ator em série dramática

Kieran Culkin, "Succession" (HBO)

Melhor Atriz Secundária em televisão

Elizabeth Debicki, "The Crown" (Netflix)

Melhor Ator Secundário em televisão


Matthew Macfadyen, "Susccession" (HBO)

Melhor Minissérie ou Filme para Televisão

"Rixa" (Netflix)

Melhor Atriz em minissérie ou filme para televisão

Ali Wong, "Rixa" (Netflix)

Melhor Ator em minissérie ou filme para televisão

Steven Yeun, "Rixa" (Netflix)

Melhor Série Musical ou Comédia

"The Bear" (FX)

Melhor Atriz em série musical ou comédia

Ayo Edebiri, "The Bear" (FX)

Melhor Ator em série musical ou comédia

Jeremy Allen White, "The Bear" (FX)

Melhor Performance Stand-Up para Televisão

Ricky Gervais, "Armageddon" (Netflix)

Os amigos na Paris de 50




Pouco se sabe sobre a vida sempre meticulosamente resguardada de Maurice Blanchot (1907-2003). Estudou em Estrasburgo, onde conheceu Levinas e de quem se tornou amigo para a vida, este último introduziu-o na obra de Heidegger, que marcou o início de um percurso intelectual para o autor, nos tempos de juventude, envolveu-se nas grandes discussões políticas e intelectuais do seu tempo e as vésperas da Segunda Guerra Mundial, as ideias políticas de Blanchot aproximam-no da extrema-direita mas, ao mesmo tempo, e durante a ocupação, salva imensos intelectuais de ascendência judaica da deportação, facto que, em 1944, o leva ao acontecimento que viria a mudar a sua vida, como confessou, pela primeira vez, 50 anos mais tarde: Blanchot foi levado perante um pelotão de fuzilamento nazi, que, por casualidade, falhou a sua execução. Sartre disse, a propósito, que Blanchot era o crítico mais importante da actualidade, no que foi secundado por Foucault. Publicou dezenas de obras divididas entre a ficção, o ensaísmo e a crítica e toda a sua vida recusou prémios e distinções, bem como entrevistas ou retratos. “A Amizade” (1971) é a segunda colectânea de Maurice Blanchot traduzida em Portugal, muitos anos depois de “O Livro por Vir” (1959). Os ensaios mais importantes do livro são os dedicados a Camus e Kafka. Camus é o companheiro de geração, o das subtis zonas de sombra ou segredo, amigo com quem admiradores e amigos se desencontraram: “Porque ele se expressa claramente, querem confinar Camus à afirmação visível que ele consegue. Porque ele é inequívoco, atribuem-lhe uma verdade inequívoca.” Isto, justo ou injusto, não é canalha, o que já é um progresso. Quanto a Kafka, trata-se de um caso de desajuste ainda mais completo. Sabemos que só o conhecemos na integralidade por causa de Max Brod, que não destruiu o espólio do amigo, como ele lhe pediu. Mas esse mesmo Brod tentou defender o amigo-como-amigo, menorizando o que nele era negrume, e nisso falhou, como teria de falhar: “Kafka morto é intimamente responsável pela sobrevivência da qual Brod foi o instigador obstinado. Por que outro motivo teria feito dele seu herdeiro? Porque, se ele queria que a sua obra desaparecesse, não a destruiu?” Daí que Blanchot pergunte, e não é uma pergunta qualquer: “Quem conhecia Kafka?”. Enfim, e talvez, quem conhece quem e o quê? Fiquemos pelas perguntas.












AMIZADE  
Maurice Blanchot 
Editora: Sr Teste Coleção: Fulgor Quotidiano 
Ano: 2023 ISBN: 9786120015230 Número de páginas: 450 Capa: Brochada
16,20 € 

A psicanálise no conflito de interpretações

 

"Por achar relevante, Zenith traça um retrato de Pessoa onde articula três aspetos: (i) uma infância caracterizada pela presença de um intruso e de uma nova família que teriam provocado uma sensação de estranhamento, logo, uma espécie de evasão ou refúgio nos estudos; (ii) um “problema sexual” que ao, longo da obra, vai dar lugar a uma rebarbativa tendência para fazer valer a homossexualidade de Pessoa; (iii) e uma última preocupação relativa à psicanálise, inspirada em Freud, como chave de leitura da vida, mas também da obra de Pessoa. Reconheça-se que, algumas páginas depois, o próprio Zenith reconhece que “não há provas de que se tenha envolvido em atos de pederastia ou qualquer tipo de sexo com homens”. Chegando à conclusão, que parece indicar algo de matizado, que o poeta “não era heterossexual, homossexual, pansexual ou assexual, era androginamente monossexual”. Aliás, a ideia da androginia — enquanto “atenuação das diferenças sexuais” já tinha servido para caracterizar os modernistas, em geral, incluindo Pessoa (Fátima Inácio Gomes, “Sexualidade”, in “Dicionário de Fernando Pessoa”). Todavia, na maior parte das vezes ao longo do seu livro, Zenith dá a entender a existência de uma estreita ligação de Pessoa à homossexualidade.
Em “O Mistério da Poesia”, Gaspar Simões recorrera a Freud, no capítulo intitulado “Fernando Pessoa e as vozes da inocência”. Pessoa respondeu-lhe, insurgindo-se contra a interpretação freudiana da sua infância e obra poética. O poeta não disputava o êxito de Freud. Reconhecia que a moda em que se tinha tornado o sistema freudiano estava ligada à originalidade do critério por ele usado, que se baseava “(salvo desvios em alguns sequazes) numa interpretação sexual”.Na mesma carta de resposta a Gaspar Simões, a propósito de Mário de Sá-Carneiro, Pessoa levou mais fundo o ataque à interpretação freudiana. Considerou-a dogmática e perguntou: “Porque se baseia na falta de elementos para formar um juízo?” Logo de seguida, encadeou um reparo a seu próprio respeito: “Tem v. a certeza, só porque eu o digo e repito, que tenho saudades da infância e que a música constitui para mim — como direi? — o meio natural estorvado da minha íntima expressão.” Sendo certo que Mário de Sá-Carneiro perdera a mãe aos dois anos e nunca conhecera o calor materno, Pessoa considerou que os amadastrados da vida podiam ser falhos de ternura, mas alguns “viram sobre si mesmos a ternura própria, numa substituição de si mesmos à mãe incógnita”. Mais adiante, acrescentou que ele não sentia saudades de nada, talvez por ser futurista. Por isso, o que se deveria constituir em objeto de crítica seria unicamente o sentido das suas construções literárias.
A reconstrução feita por George da infância de Pessoa rompe com a interpretação de Gaspar Simões amplificada por Zenith. Antes de mais, rejeita a ideia do padrasto-intruso, do salto abrupto para a homossexualidade e do uso, espontâneo e pouco refletido, da psicanálise enquanto chave de leitura dos escritores e das suas obras. Sublinhe-se, ainda, o facto de o padrasto merecer palavras de ternura, na sua relação com Pessoa, as quais se situam nos antípodas da ideia de intruso. Na base da interpretação de George, talvez esteja o testemunho da sobrinha do poeta, a qual escreveu acerca do tio que “foi uma criança muito amada, um adolescente compensado por distinções na escola, um jovem apreciado e considerado por familiares e amigos” (Manuela Nogueira, “O Meu Tio Fernando Pessoa”). De qualquer modo, Hubert D. Jennings, ao fazer a biografia de Pessoa em Durban, já tinha posto em causa a interpretação de Gaspar Simões, recusando-se a aceitar a ideia de que o trauma da morte do pai teria levado à formação de uma personalidade introvertida, ainda por cima demonstrou que o padrasto era atencioso e acolhedor. George também valoriza o papel desempenhado na vida intelectual de Pessoa pelo general Henrique Rosa, irmão do padrasto. Se o poeta tivesse de facto uma relação difícil com este último — que escreveu ao irmão para dar apoio ao Pessoa, quando ele chegasse a Portugal — quereria relacionar-se com o seu irmão? O padrasto, que terá influenciado Pessoa a inscrever-se no curso comercial, chamava-lhe teimoso manso. Este não era um epíteto desagradável, apenas indicia que terá havido momentos de desacordo (quem os não tem?), mas que daí não resultaram conflitos graves. No mesmo sentido, as páginas que George dedica à infância de Pessoa estão pejadas de manifestações de apreço, afetos e brincadeiras, por parte de avós, tios e tias, primos e criadas, mas sobretudo da mãe e do seu segundo marido, em relação ao rapaz. Tal assim é que se pode colocar a questão de saber se a indiscutível precocidade, do ponto de vista da aquisição dos conhecimentos de Fernando Pessoa ou do que comummente se designa pelo seu lado genial, não terá florescido graças ao ambiente afetivo de segurança criado pela família.
Em conclusão, no conflito de interpretações que opõe os dois recentes biógrafos de Fernando Pessoa e que já fez correr muita tinta, a caracterização da infância e da vida sexual do poeta feita por Zenith parece amplificar um conjunto de aspetos, de orientação freudiana, anteriormente utilizados por João Gaspar Simões e que começaram por ser postos em causa pelo próprio Pessoa. Aparentemente, trata-se de um ponto de vista que se generalizou, a ponto de se ter imposto como a única interpretação possível. Mas não será melhor e mais pertinente pô-lo em causa?"
Diogo Ramada Curta, Expresso

A melhor apresentação possível da pintura espanhola existente em Portugal

"Otelo e Desdémona” (1880), de Antonio Muñoz Degraín

“Identidades Partilhadas — Pintura Espanhola em Portugal”, que o Museu Nacional de Arte Antiga apresenta, valoriza o seu património, uma vez que pertencem ao museu 45 das 82 das obras em exposição e pode ser entendida como a melhor apresentação possível da pintura espanhola existente em Portugal. Destaque para o “Barroco” (19 pinturas), com a forte presença de Josefa de Óbidos, nascida em Sevilha, em conjunto com seu pai e mestre, Baltazar Gomes Figueira, na proximidade dos excelentes bodegones de Pereda e, depois, de uma variada sucessão de nomes ilustres — Velázquez —, de pintores populares e apreciados — Murillo —, e de curiosidades como a pintura de flores, o trompe l’oeil e, sobretudo, uma Imaculada de autor anónimo, provável representação de uma “escultura concreta. Raras obras-primas e curiosidades.



Elvis & Bowie, Lda

 

O primeiro nasceu, neste dia, em 1935, o segundo, em 1947. Ambos vieram de estrelas muito distantes e brilhantes e já lá regressaram. Do primeiro, diz-se que foi um King. Do segundo que foi um Camaleão. O povo tem sempre razão.